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quinta-feira, 12 de abril de 2012

O Baile Que Não Aconteceu

As primeiras semanas a frente do Copacabana Palace passaram num “abrir e fechar de olhos”.  Embora o Copacabana Palace fosse o quinto “hotel de cinco estrelas” que eu gerenciava no Brasil, era totalmente diferente dos outros, não somente pela sua configuracao física,  mas principalmente  pela sua antiquada  organizacao operacional e administrativa.  O Orient-Express havia adquirido o hotel com a intencao de realizar uma ampla reforma de suas instalacoes, mas logo percebi que antes disso, era preciso realizar uma ampla reforma administrativa de forma a tornar o hotel mais eficiente nos seus processos de gestão.  Isto não seria uma tarefa fácil em quaisquer circumstancias, mas no Copa  havia um complicador adicional, que era a existência de um grande grupo de funcionários com “estabilidade” no emprego.  A este grupo não interessava qualquer mudança, antes pelo contrario,  a manutencao  do “status quo” era o objetivo permanente deles.  De qualquer forma iniciamos algumas mudanças implantando alguns relatórios gerenciais e pouco a pouco as coisas foram mudando.

Enquanto isso, o arquiteto e decorador francês, Gerard Gallet, que trabalhava exclusivamente  para o grupo Orient-Express, desenvolvia seus planos de reforma que teriam que ser submetidos ao crivo do James Sherwood,  que se envolvia nos mínimos detalhes da reforma, e depois finalmente aprovados pelo “Board” do Orient-Express.  Era um processo que iria demorar alguns meses, e no final de 1989, sentindo que era necessário demonstrar para o publico carioca que algo iria mudar no Copa depois da aquisicao pelo grupo Orient-Express, chamei o Oscar Ornstein, o Diretor de RP, e disse-lhe,  “Oscar, estou com vontade de re-editar um grande Baile de Gala de Carnaval, a altura dos grandes bailes black-tie do passado.  Todo mundo me diz que hoje em dia isto e impossível, e que a época dos grandes Bailes de Carnaval já passou.  Me dizem que os homens cariocas jamais vestirão uma roupa  “black-tie”  para um Baile de Carnaval.   Mesmo assim, estou com vontade de tentar,  O que você acha?”  Os olhos do Oscar brilhavam. Me olhou atentamente, e com um leve sorriso nos lábios me respondeu,  “Eu adoraria organizar este Baile.  Me da dois dias para pensar, e eu lhe darei minha resposta”.    Dois dias depois Oscar voltou a minha sala e me disse “Topo fazer o Baile!  Vamos trabalhar!”  Começamos então a planejar a volta dos famosos Bailes do Carnaval do Copacabana Palace, que já não tinham sido realizados pelo hotel desde 1973, embora o bem-sucedido empresario de entretenimento, Ricardo Amaral , havia organizado o  “Baile das Panteras” no Golden Room durante alguns anos no inicio da década de `80.  Já estávamos no més de dezembro, e faltava apenas dois meses para o Carnaval  chegar.  O trabalho de organizacao seguia num ritmo frenético, mas 15 dias depois chamei Oscar novamente para minha sala e disse-lhe, “Oscar, lamento muito, mas vamos ter que cancelar o Baile.  Acabo de ser informado que o James Sherwood  convocou uma reunião do Board do Orient-Express, aqui no Copacabana Palace, justamente para o sábado  de carnaval.  Os membros do Board virão acompanhados de suas esposas, e vão passar todo o Carnaval no hotel.  Querem assistir o desfile das escolas de samba, passear de barco, jantar nos melhores restaurantes da cidade, etc. etc.  Organizar este evento já vai ser uma tarefa árdua.  Não da para arriscar organizar um Baile que não sabemos se ira dar certo com todo o Board presente.  Vamos deixar o Baile para o ano que vem”  Oscar concordou comigo que, diante das circumstancias, não havia alternativa, e portanto o Baile de 1990, foi o Baile que nunca aconteceu.  Por diversas circumstancias, o Baile também não aconteceu em 1991, e nem em 1992, mas finalmente, em 1993, o Baile de Gala de Carnaval do Copacabana Palace fez sua re-estreia no tradicional noite de sábado de carnaval, e agora, 20 anos depois, se transformou num enorme sucesso superando os mais otimistas projecoes.  Mas isto já e outra historia!