O ano de 1993 acabou sendo
marcante na historia do Copacabana Palace porque foi o ano em que o hotel
voltou a realizar seu famoso baile de carnaval, apos um intervalo de 20
anos. Eu tinha tido vontade de reeditar
o Baile em 1990, logo apos que o Orient-Express adquiriu o hotel, mas havíamos
cancelado o evento apos ter sido informado que o James Sherwood e todo o Board
do Orient-Express (junto com seus acompanhantes) viriam passar o carnaval de
1990 no Rio. Organizar uma reunião de
Board, e entretener-los durante uma semana, durante o carnaval carioca, já
seria um “baile”. No final de 1992
entretanto, fui procurado por Sydney Pereira,
com quem eu havia trabalhado no Rio Palace, onde Sydney atuava como
Diretor do Chez Castel (depois Palace
Club), que sugeriu reeditar o Baile, com Sydney atuando como organizador e “promoter”. Antes de concordar, pesquisei tudo que podia
sobre os antigos bailes do Copa.
Conversei com Dna. Mariazinha Guinle, para saber porque os antigos bailes
tinham acabado. Ela me disse, “Apos o
Baile de 1973, jurei nunca mais realizar um baile de carnaval. O baile havia virado uma bagunça sem limites,
quase sem controle, e ainda provocava um enorme prejuízo financeiro para o
hotel”. Naquele tempo, o Baile ocupava
todos os salões do hotel, incluindo os salões do antigo cassino, e a entrada do
Baile era pela entrada do teatro na Av. N.S. de Copacabana. Vendiam
3000 mil ingressos, e ainda haviam centenas de “penetras” que conseguiam
furar o sistema de segurança e entrar de graça.
Conversei com várias outras pessoas – mais entendidos no assunto do que
eu – e todos foram unanimes. O tempo dos
grandes bailes de carnaval havia passado.
Não havia mais espaço para um baile de gala, quanto mais com a exigência
de traje a rigor ou fantasia de luxo.
Mesmo com as opiniões contrárias, resolvemos tentar. Como a tao esperada reforma do hotel estava
demorando, o hotel precisava criar um fato novo que o colocava em evidencia, e
reeditar o famoso baile de gala era uma boa oportunidade. Desde o começo tínhamos algumas conviccoes, que
se mantem ate hoje, que são; 1)
Respeitando a tradicao, o Baile seria realizado no sábado de
carnaval, 2) A exigência de traje a rigor, 3)
Limitar os ingressos para 1500 pessoas, ocupando apenas os salões
frontais,Salão Nobre, e Golden Room, 4) Acessar o Baile pela Avenida Atlântica, em
vez da Avenida N.S. de Copacabana, e 5) Proibir a presença das emissoras de
televisão no Baile.
Com esta orientacao, o
Sydney Pereira se pôs a trabalhar, contratou decorador, orquestra, escola de
samba, sistema de som, etc. e finalmente no dia 20 de fevereiro de 1993,
renasceu o famoso Baile do Copa.
Considerando tudo, foi um sucesso!
Conseguimos vender quase 800 ingressos, e com mais 400 convidados, o
salão do Golden Room se manteve animadissimo ate a madrugada. Embora algumas pessoas foram barradas na
porta por não estarem respeitando o “dress code”, a grande maioria dos
presentes entraram no clima de um carnaval de gala. Terminado o evento, verificamos que o Baile
havia produzido um pequeno lucro que doamos (como havíamos prometido) a uma
instituicao de caridade. O “lucro” real do hotel foi na imensa cobertura que o
evento teve na imprensa, que foi muito alem de que nos tínhamos imaginados.
Com tudo que havíamos
aprendido durante a organizacao do Baile, estávamos confiantes que o Baile de
1994 seria melhor ainda. A Hildegard
Angel, a influente colunista social que desde o inicio havia apoiada a
realizacao do Baile, me telefonou dando algumas sugestões de como o Baile poderia
ser melhorado. Uma das sugestões da Hilde
era de contratar Zeka Marquez, para cuidar da decoracao, e a subsequente
incorporacao do Zeka a equipe trouxe logo uma nova dimensão para o Baile. O Zeka não apenas cuidava da decoracao. Ele criava um tema especifica para o Baile e
toda a decoracao seguia este tema. Alem
disso, ele se envolvia em todos os detalhes da organizacao da festa, criando um
“happening” permanente no palco do Golden Room.
A decoracao, luxuosíssima, foi estendida para as varandas frontais do
hotel, e foi criada uma nova entrada para a festa, ao lado da Pergula, com tapete vermelho, holofote, etc., que mais
parecia uma producao hollywoodiana. Alem disso, toda a fachada do hotel era
iluminada com figuras coloridos combinando com o tema da festa. Por tudo isso, nao e nenhum exagero afirmar
que a realizacao do Baile de 1994 foi -
em todos os aspectos - muito superior
ao Baile de 1993, com uma única e importante excecao, a venda de
ingressos. Já que o Baile de 1993 havia
vendido quase 800 convites, e teve uma repercussão favorável, imaginávamos que
o Baile de 1994 deveria vender por volta de 1000 ingressos, ainda mais com a
expectativa criada pela vinda de Zeka. Infelizmente nao foi o que ocorreu. Para
cobrir os custos adicionais associados a vindo do Zeka, havíamos aumentado moderadamente
os preços em relacao ao Baile de 1993, mas a verdade e que o Baile de 1994 teve
apenas 99 pagantes,um fracasso monumental de venda!!!! Nos dias que antecederem o Baile, e já percebendo
o fracasso da venda, e claro que convidamos centenas de pessoas para a festa,
de forma que, para quem estivesse no Baile, foi um sucesso absoluto. O difícil foi explicar depois para a Diretoria do
Orient-Express em Londres o motivo do rombo que o Baile provocou nas contas do
hotel. O hotel já nao andava bem por
forca da crise que a cidade toda atravessava no inicio da década de ’90, e, no
caso do Copa, isto era agravada pela falta de reforma dos apartamentos. Para os ingleses, que nao entendiam muito
sobre o carnaval do Rio, e muito menos sobre a tradicao e a importância histórica
do Baile do Copa, os gastos com a realizacao do Baile de 1994 devem ter sido parecidos com que os republicanos brasileiros achavam dos
gastos do ultimo baile da Ilha Fiscal, em 1889!
De qualquer maneira, os
ingleses acabaram por aceitar as explicacoes, mas se meu emprego a frente do
Copa algum dia correu serio risco, este foi certamente o dia. Pela logica, o Baile de 1994 devia ter sido o
ultimo. Uma boa ideia, que infelizmente
nao deu certo, como, alias, a grande maioria previa. Resolvemos entretanto insistir com o
Baile. A experiência tinha servido para
nos convencer que era viável realizar um baile de grande categoria, que poderia
se tornar auto-sustentável. Para viabilizar
o Baile de 1995, convencemos os ingleses que o Baile era uma importante
ferramenta de marketing, mesmo que fosse produzir um prejuízo financeiro. Passamos então a incluir no Budget de
Marketing uma verba para cobrir eventuais prejuízos, e tratamos de dobrar o esforco de
venda contratando Ana Maria Tornaghi para trabalhar junto com Sydney Pereira na
promocao do Baile. A vinda de Ana Maria trouxe tambem inovacoes importantes que ajudaram a melhorar ainda mais o Baile. Novamente, o Baile de 1995 foi um grande sucesso de
realizacao, e as vendas melhoram consideravelmente. Em 1997 o Sydney Pereira se retirou da
organizacao, permanecendo Ana Maria como única “promoter” do Baile, ficando assim ate o ano
2000 quando o hotel assumiu diretamente todas as facetas de sua organizacao, incluindo
a promocao. Ao longo dos últimos anos o
Baile tem alcançado resultados impressionantes, e já fazem muitos anos que nao
se aloca nenhuma verba de marketing no "budget" do hotel para cobrir eventuais prejuízos. Hoje, nao e incomum ver o Baile produzir um
lucro financeiro 10 vezes superior ao prejuízo de 1994.
Os ingleses, obviamente, ficam encantados, como, alias, eu também fico. Quem te viu, e quem te ve! Um evento que lutei tanto para manter vivo,
e que se tornou um sucesso tao grande que, como eu dizia para minha equipe do Copa, nao dava mais para eu acabar, nem que eu
quisesse. O Baile do Copa - um verdadeiro”case” de sucesso!