Total de visualizações de página

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O Baile do Copa


O ano de 1993 acabou sendo marcante na historia do Copacabana Palace porque foi o ano em que o hotel voltou a realizar seu famoso baile de carnaval, apos um intervalo de 20 anos.  Eu tinha tido vontade de reeditar o Baile em 1990, logo apos que o Orient-Express adquiriu o hotel, mas havíamos cancelado o evento apos ter sido informado que o James Sherwood e todo o Board do Orient-Express (junto com seus acompanhantes) viriam passar o carnaval de 1990 no Rio.  Organizar uma reunião de Board, e entretener-los durante uma semana, durante o carnaval carioca, já seria um “baile”.  No final de 1992 entretanto, fui procurado por Sydney Pereira,  com quem eu havia trabalhado no Rio Palace, onde Sydney atuava como Diretor do Chez Castel  (depois Palace Club), que sugeriu reeditar o Baile, com Sydney atuando como organizador e “promoter”.  Antes de concordar, pesquisei tudo que podia sobre os antigos bailes do Copa.  Conversei com Dna. Mariazinha Guinle, para saber porque os antigos bailes tinham acabado.  Ela me disse, “Apos o Baile de 1973, jurei nunca mais realizar um baile de carnaval.  O baile havia virado uma bagunça sem limites, quase sem controle, e ainda provocava um enorme prejuízo financeiro para o hotel”.  Naquele tempo, o Baile ocupava todos os salões do hotel, incluindo os salões do antigo cassino, e a entrada do Baile era pela entrada do teatro na Av. N.S. de Copacabana.  Vendiam  3000 mil ingressos, e ainda haviam centenas de “penetras” que conseguiam furar o sistema de segurança e entrar de graça.  Conversei com várias outras pessoas – mais entendidos no assunto do que eu – e todos foram unanimes.  O tempo dos grandes bailes de carnaval havia passado.  Não havia mais espaço para um baile de gala, quanto mais com a exigência de traje a rigor ou fantasia de luxo.  Mesmo com as opiniões contrárias, resolvemos tentar.  Como a tao esperada reforma do hotel estava demorando, o hotel precisava criar um fato novo que o colocava em evidencia, e reeditar o famoso baile de gala era uma boa oportunidade.  Desde o começo tínhamos algumas conviccoes, que se mantem ate hoje, que são;   1)  Respeitando a tradicao, o Baile seria realizado no sábado de carnaval,  2)  A exigência de traje a rigor,  3)  Limitar os ingressos para 1500 pessoas, ocupando apenas os salões frontais,Salão Nobre, e Golden Room,  4)  Acessar o Baile pela Avenida Atlântica, em vez da Avenida N.S. de Copacabana, e 5) Proibir a presença das emissoras de televisão no Baile.

Com esta orientacao, o Sydney Pereira se pôs a trabalhar, contratou decorador, orquestra, escola de samba, sistema de som, etc. e finalmente no dia 20 de fevereiro de 1993, renasceu o famoso Baile do Copa.  Considerando tudo, foi um sucesso!  Conseguimos vender quase 800 ingressos, e com mais 400 convidados, o salão do Golden Room se manteve animadissimo ate a madrugada.  Embora algumas pessoas foram barradas na porta por não estarem respeitando o “dress code”, a grande maioria dos presentes entraram no clima de um carnaval de gala.  Terminado o evento, verificamos que o Baile havia produzido um pequeno lucro que doamos (como havíamos prometido) a uma instituicao de caridade. O “lucro” real do hotel foi na imensa cobertura que o evento teve na imprensa, que foi muito alem de que nos tínhamos imaginados.

Com tudo que havíamos aprendido durante a organizacao do Baile, estávamos confiantes que o Baile de 1994 seria melhor ainda.  A Hildegard Angel, a influente colunista social que desde o inicio havia apoiada a realizacao do Baile, me telefonou dando algumas sugestões de como o Baile poderia ser melhorado.   Uma das sugestões da Hilde era de contratar Zeka Marquez, para cuidar da decoracao, e a subsequente incorporacao do Zeka a equipe trouxe logo uma nova dimensão para o Baile.  O Zeka não apenas cuidava da decoracao.  Ele criava um tema especifica para o Baile e toda a decoracao seguia este tema.  Alem disso, ele se envolvia em todos os detalhes da organizacao da festa, criando um “happening” permanente no palco do Golden Room.  A decoracao, luxuosíssima, foi estendida para as varandas frontais do hotel, e foi criada uma nova entrada para a festa, ao lado da Pergula,  com tapete vermelho, holofote, etc., que mais parecia uma producao hollywoodiana. Alem disso, toda a fachada do hotel era iluminada com figuras coloridos combinando com o tema da festa.  Por tudo isso, nao e nenhum exagero afirmar que a realizacao do Baile de 1994 foi -  em todos os aspectos -  muito superior ao Baile de 1993, com uma única e importante excecao, a venda de ingressos.  Já que o Baile de 1993 havia vendido quase 800 convites, e teve uma repercussão favorável, imaginávamos que o Baile de 1994 deveria vender por volta de 1000 ingressos, ainda mais com a expectativa criada pela vinda de Zeka.   Infelizmente nao foi o que ocorreu.   Para cobrir os custos adicionais associados a vindo do Zeka, havíamos aumentado moderadamente os preços em relacao ao Baile de 1993, mas a verdade e que o Baile de 1994 teve apenas 99 pagantes,um fracasso monumental de venda!!!!   Nos dias que antecederem o Baile, e já percebendo o fracasso da venda, e claro que convidamos centenas de pessoas para a festa, de forma que, para quem estivesse no Baile, foi um sucesso absoluto.  O difícil foi explicar depois para a Diretoria do Orient-Express em Londres o motivo do rombo que o Baile provocou nas contas do hotel.  O hotel já nao andava bem por forca da crise que a cidade toda atravessava no inicio da década de ’90, e, no caso do Copa, isto era agravada pela falta de reforma dos apartamentos.  Para os ingleses, que nao entendiam muito sobre o carnaval do Rio, e muito menos sobre a tradicao e a importância histórica do Baile do Copa, os gastos com a realizacao do  Baile de 1994 devem ter sido parecidos  com que os republicanos brasileiros achavam dos gastos do ultimo baile da Ilha Fiscal, em 1889!

De qualquer maneira, os ingleses acabaram por aceitar as explicacoes, mas se meu emprego a frente do Copa algum dia correu serio risco, este foi certamente o dia.  Pela logica, o Baile de 1994 devia ter sido o ultimo.  Uma boa ideia, que infelizmente nao deu certo, como, alias, a grande maioria previa.  Resolvemos entretanto insistir com o Baile.  A experiência tinha servido para nos convencer que era viável realizar um baile de grande categoria, que poderia se tornar auto-sustentável.  Para viabilizar o Baile de 1995, convencemos os ingleses que o Baile era uma importante ferramenta de marketing, mesmo que fosse produzir um prejuízo financeiro.  Passamos então a incluir no Budget de Marketing uma verba para cobrir eventuais prejuízos, e tratamos de dobrar o esforco de venda contratando Ana Maria Tornaghi para trabalhar junto com Sydney Pereira na promocao do Baile.  A vinda de Ana Maria trouxe tambem inovacoes importantes que ajudaram a melhorar ainda mais o Baile.  Novamente, o  Baile de 1995 foi um grande sucesso de realizacao, e as vendas melhoram consideravelmente.  Em 1997 o Sydney Pereira se retirou da organizacao, permanecendo Ana Maria como única “promoter” do Baile, ficando assim ate o ano 2000 quando o hotel assumiu diretamente todas as facetas de sua organizacao, incluindo a promocao.  Ao longo dos últimos anos o Baile tem alcançado resultados impressionantes, e já fazem muitos anos que nao se aloca nenhuma verba de marketing no "budget" do hotel para cobrir eventuais prejuízos.  Hoje, nao e incomum ver o Baile produzir um lucro financeiro 10 vezes superior ao prejuízo de 1994.  Os ingleses, obviamente, ficam encantados, como, alias,  eu também fico.  Quem te viu, e quem te ve!  Um evento que lutei tanto para manter vivo,   e que se tornou um sucesso tao grande que, como eu dizia para minha equipe do Copa, nao dava mais  para eu acabar, nem que eu quisesse.  O Baile do Copa  - um verdadeiro”case” de sucesso!

Um comentário:

  1. Parabéns tio Philip,muito bacana este capítulo,sua perseverança e garra..e um sucesso até hj. Forte abraço.

    ResponderExcluir