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terça-feira, 29 de outubro de 2019

Explicando Brexit para Brasileiros


Já faz três anos e meio, desde o referendo de junho de 2016, que meus amigos brasileiros me pedem uma explicação sobre o resultado que determinou a saída do Reino Unido da União Europeia, uma decisão que para 99,9% dos meus amigos era tanto insano como incompreensível.  Eu mesmo custei a acreditar no resultado, até porque todas as pesquisas prévias indicavam uma vitória dos que queriam a permanência na UE, embora quanto mais próxima ficava a data do referendo essa aparente vantagem ia diminuindo.  Embora tenho dupla nacionalidade, não tive o direito de votar pois o voto era limitado aos britânicos residentes no Reino Unido, mas se eu pudesse, eu teria votado para "Remain" e contra a saída, e fiquei muito chateado com o resultado.  Mais tarde, cheguei a assinar uma petição que conseguiu colher mais de 6 milhões de assinaturas solicitando um novo referendo, mas isso acabou não dando em nada.

De qualquer forma, só voltei para Inglaterra um ano após o referendo ter sido realizado, mas me surpreendi ao encontrar um país totalmente dividido pela discussão em torno do "Brexit".  Logo percebi que e os argumentos de lado a lado haviam radicalizados de tal forma que não era mais possível haver uma discussão racional sobre o assunto já que os ânimos estavam demasiadamente exaltados.  Parte do problema era o inconformismo com o resultado por parte daqueles que haviam votados pela permanência, e que tentavam de todos as formas invalidar o resultado e cancelar o Brexit, ou pelo menos provocar a convocação de um novo referendo.   Do outro lado, os 51,9% do eleitorado que haviam votado a favor do Brexit não aceitavam qualquer discussão sobre o tema e exigiam o cumprimento do resultado,  pois, como havia dito Theresa May ao assumir o governo após a renuncia do primeiro-ministro David Cameron, "Brexit means Brexit".  Isso é o problema da democracia popular.  Se você pede que o eleitor responde  Sim, ou Não, para uma questão complexa como era a saída da UE,  não adianta depois reclamar se a resposta que recebe não é aquela que voce esperava, ou queria.  De qualquer forma, não é correto, como muitos fazem, de culpar David Cameron por ter convocado o referendo, e também não é correto, como faz boa parte da imprensa internacional, de considerar o voto pela saída  simplesmente como uma manifestação populista e anti-imigratória, embora o controle sobre a imigração fosse um dos temas mais relevantes do debate.  A possibilidade da realização de um referendo para decidir se o Reino Unido deveria ficar ou sair da União Europeia já rondava a politica britânica há pelo menos dez anos antes de Cameron prometer realiza-lo e a ideia tinha sido endossado por quase todos os partidos politicas.  É preciso voltar 25 anos no tempo para entender como um crescente sentimento anti-UE evoluiu, mas o forte crescimento da UKIP (UK Independence Party) principalmente após 2006, e cuja única bandeira era a saída do Reino Unido da União Europeia, e a ameaça que isso representava para o partido Conservador,  foram fatores decisivos que convenceram Cameron a incluir a promessa da realização de um referendo sobre a UE no manifesto do partido Conservador para as eleições gerais de 2015, em que, inesperadamente, o partido Conservador venceu.

Como então explicar os motivos pelo resultado do referendo?  Como ponto de partida, deve-se reconhecer que as razões são variadas e complexas e a pergunta não tem uma resposta simples.  De inicio, deve-se observar que o projeto da União Europeia e sua evolução de um mercado comum  para uma entidade que busca uma união cada vez mais próxima entre seus membros, e a consequente perda de soberania nacional que isso implica,  sempre foi visto com ceticismo por uma parcela importante da população britânica.  Seja por ser uma ilha afastada do continente europeia, ou seja por ter possuído até recentemente um império de dimensões globais, o fato é que os britânicos nunca se identificaram plenamente como europeias.  Um analise detalhado dos resultados do referendo demonstra grande variação na votação entre as regiões, e principalmente, entre as cidades maiores e o restante do país. O resultado combinado das 30 maiores cidades do país demonstrou que 55% votaram pela permanência na UE, mas essa contingencia de eleitores representava apenas 25% do eleitorado total, e os 75% restantes votaram 54% pela saída.  Mesmo nas cidades grandes, não houve unanimidade. Das 30 maiores 16 delas votaram pela saída, e enquanto cidades como Londres (59,9%), Liverpool (58,2%), Manchester (60,4%), Glasgow (66,6%) e Bristol (61,7%)  votaram pela permanência, cidades como Birmingham, o segundo maior colégio eleitoral após Londres votou pela saída, assim como Coventry, Portsmouth, Southampton, Nottingham, e Sunderland, entre outras.  Entre as 12 regiões eleitorais, apenas 3 (Escócia, Irlanda do Norte, e Londres) votaram pela permanência, com as demais regiões votando pela saída.  Para exemplificar ainda mais a divisão, dois dos quatros países que conjuntamente formam o Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda do Norte (Inglaterra e País de Gales) votaram pela saída, e os outros dois (Escócia e Irlando do Norte) votaram pela permanência.  É um Reino unido em nome, e pelo respeito pela monarca Rainha Elizabeth II, mas desunido politicamente, e com grandes variações de riqueza e pobreza, principalmente entre o norte (mais pobre) e o sul (mais rica).

O resultado do referendo provocou um grande debate sobre os fatores que contribuíram para a vitória daqueles que promoviam o voto pela saída da UE.  Entre as causas mais citadas foram;
           
              a) A perda de soberania nacional
              Pesquisas demonstraram que a questão da soberania nacional foi o principal motivo do voto                     pela saída da UE, sendo citado como principal motivo por 48% dos que votaram pela saída. A campanha pela saída da UE havia utilizado um simples mensagem de "take back control", ou seja, de retomar o controle do país, já que boa parte da população (de todas as classes sociais) não se conformavam com o fato que tanto o parlamento britânico, assim como seu judiciário, estavam subordinados aos seus congêneres europeias.  Além disso, o braço executivo da UE, a Comissão Europeia, era visto como uma entidade burocrática, não-eleita pelo povo, e consequentemente distante dos anseios do dia a dia do povo.
           
              b) Imigração 
              Antes de mais nada, deve-se observar que a imigração já era um tema contenciosa no Reino Unido  muito antes do país entrar para a União Europeia.  Isso devido a grande imigração de pessoas das antigas colônias britânicas após o fim da segunda guerra mundial, e a percepção que muitos desses imigrantes, principalmente muçulmanos, não haviam sido bem assimilados dentro da sociedade e cultura britânica.
Entretanto, a preocupação com a imigração tomou uma nova dimensão após a entrada de oito países da leste europeia na UE em 2004 que criou uma nova onda de imigração que teve como consequência sufocar os serviços públicos em muitas pequenas cidades, principalmente na leste da Inglaterra.  Para exemplificar, a cidade de Boston, em Lincolnshire, que tem 60.000 habitantes, viu sua população de estrangeiros aumentar em 16 vezes (de 1.000 para 16.000) entre 2005 e 2016.  No referendo, 75% de sua população votou pela saída da UE.  Foi a maior votação pela saída em todo o país.  Além da imigração europeia, ainda havia uma preocupação com a imigração síria, principalmente após Alemanha ter permitido a  entrada de um milhão de refugiados sírios em 2015.  Para completar o quadro, a campanha pela saída ainda previa que o país seria inundada com uma onda de imigração turca, caso Turquia fosse admitido na UE, como estava sendo negociado.
             
                c)  Situação Sócia-Econômica
                Muitos eleitores, principalmente aqueles residentes nas  regiões que sofriam de acentuada deprivação social no norte do país viu no referendo uma ocasião para registrar um voto de protesto contra o governo e contra o neoliberalismo e a globalização.  As áreas mais pobres no norte do país votaram maciçamente pela saída da UE.
             
                d)  Idade e Nível de Escolaridade
                Quanto mais velho era o eleitor mais propenso ele era de votar pela saída da EU e quanto mais novo mais propenso era de votar pela permanência.  Entre a população de 18 - 24 anos de idade mais de 70% votaram pela permanência, enquanto 64% da população acima de 65 anos de idade votaram pela saída.  Embora o comparecimento às urnas atingiu um nível de 72%, considerado elevado levando em conta que o voto não era obrigatório, o comparecimento das pessoas com mais de 65 anos atingiu quase 90%, enquanto o nível de comparecimento da faixa mais jovem ficou em 64%.  Houve também diferenças acentuadas de acordo com a escolaridade do eleitor.  68% daqueles com curso superior votaram pela permanência na UE enquanto 70% daqueles que estudaram até o nível secundário votaram pela saída, assim como 80% daqueles sem nenhuma qualificação acadêmica.

                e)  Efeito da Campanha
                Não há dúvida que a campanha pela saída da UE foi mais focada e trazia mensagens com forte apelo emocional como a ameaça de imigração crescente e descontrolada de países da leste europeia.  Fora a mensagem central da campanha de "take back control", um outro forte argumento que foi utilizado foi a alegação que o país economizaria £350 milhões (aproximadamente R$1,7 bilhões) por semana com a saída da UE, e que esse dinheiro poderia ser utilizado para melhorar o serviço público de saúde, o NHS.  Em contraste, a campanha pela permanência focou muito na questão dos supostos danos financeiros e econômicos que a saída causaria, além de fazer  outras previsões nefastas e catastróficas e permitiu que seus adversários a apelidaram de "Project Fear", ou Projeto Medo.  Também contribuiu para o sucesso da campanha pela saída o fato que ela foi liderado pelo carismático Boris Johnson, ex-Prefeito de Londres (e atual primeiro-ministro).  Além de ser um figura com forte presença na mídia, era considerado o politico com maior credibilidade junto a população.

                f)  A Posição dos Partidos Políticos
                Todos os principais partidos políticos fizeram campanha pela permanência na UE.  O único partido que fazia campanha pela saída era o UKIP (UK Independence Party), liderado pelo radical Nigel Farage, cujo único razão de existir era a ambição de tirar o Reino Unido da União Europeia. O partido de governo, o partido Conservador, liderado pelo primeiro-ministro David Cameron era favorável a permanência mas tanto seus ministros como seus membros do parlamento eram liberados para tomar suas próprias decisões de acordo com a consciência de cada um.  Em função disso, vários ministros, e aproximadamente de 45% dos seus membros de parlamento fizeram campanha pela saída.  O principal partido de oposição, o partido Trabalhista, também se declarou a favor da permanência mas manteve uma atitude ambígua ao longo da campanha, muito em função do fato que seu atual líder, o marxista convicto Jeremy Corbyn, tem um longo histórico de hostilidade para a UE por considerá-lo um clube capitalista.

                g)  Influência da Mídia e Redes Sociais
               A grande maioria dos jornais de maior circulação do país como o Daily Mail, o Daily Express, e The Sun, fizeram agressivos campanhas pela saída.  Aliás, a hostilidade desses tabloides para a UE vinha de longa data e contribuiu muito para a má imagem da UE perante uma parte da opinião pública britânica.  A maneira sensacionalista e antiético em que que esses jornais abordam qualquer assunto fazia da UE um alvo fácil para constantes críticas, e a consequente percepção do povo que era "Bruxelas" (sede da UE) a culpada para todos suas dificuldades.   Além do tabloides já citados, o Daily Telegraph, um jornal considerado de qualidade, também apoiou a campanha pela saída, mas os demais jornais de qualidade como The Times, The Guardian, Financial Times, e revistas de prestigio como The Economist optaram por apoiar a campanha pela permanência.

                Uma área onde a campanha pela saída encontrou grande ressonância  foi nas redes sociais, onde suas mensagens de cunho emocional encontrou grande aceitação por parte dos usuários.  A campanha pela saída dominou completamente todas as principais plataformas como Facebook, Instagram e Twitter, sendo que no caso do Instagram, a campanha pela saída, além de ter o dobro de apoiadores, foram cinco vezes mais ativos nas suas postagens.  Novamente, as mensagens simples e de cunho emocional  da campanha pela saída mostraram muito mais eficácia que os dados econômicos divulgados pela campanha pela permanência.  Há também forte suspeita que a Russia participou ativamente pela campanha pela saída nas redes sociais.

Bem, as explicações acima ajudam a esclarecer alguns dos motivos que levaram a maioria dos eleitores a votar pela saída do Reino Unido da União Europeia.  Como seria de imaginar, o resultado do referendo caiu como uma bomba no cenário politico britânico.  A primeira vítima foi o primeiro-ministro, David Cameron, que renunciou ao cargo assim que o resultado foi anunciado.  Após um breve intervalo, o partido Conservador elegeu Theresa May como líder do partido, o que fez dela primeira-ministra já que o partido Conservador mantinha uma maioria dentro do parlamento.  Em março de 2017, nove meses após o referendo, o governo britânico formalmente comunicou ao UE a sua intenção de deixar o bloco, o que seria realizado após o período de dois anos previstos em lei para negociar os termos da saída, ou do divórcio, como a imprensa brasileira gosta de referir. Consequentemente, a data definitivo para a saída do Reino Unido da UE foi fixado para 29 de março de 2019.

Em meados de abril de 2017, quando o prestigio da primeira-ministra estava no seu ponto mais elevado, e animada pelas pesquisas de opinião pública que indicava que o partido Conservador mantinha uma liderança de 20 pontos sobre o partido Trabalhista, a primeira-ministra surpreendeu a nação ao anunciar eleições gerais para o inicio de junho.  A primeira-ministra acreditava que a liderança nas pesquisas resultaria no partido Conservador conseguindo corrigir sua frágil maioria no parlamento, obtendo uma ampla maioria, o que ela julgava ser necessário para assegurar o apoio do parlamento durante o difícil período de negociação com a UE.  Contrariando sua expectativa entretanto, o resultado das eleições foi desastrosa para Theresa May.  Não apenas o partido Conservador não conseguiu ampliar como perdeu sua maioria parlamentar, e só foi possível se manter no poder depois de negociar uma aliança com a DUP (Democratic Unionist Party), o conservador e ferozmente unionista partido norte-irlandesa.

O que temos a partir desse momento é uma primeira-ministra absolutamente fragilizada.  Além de depender dos votos da DUP, não tinha mais como isolar os elementos mais radicais do partido Conservador que desejava um rompimento total com a UE e uma saída sem qualquer acordo.  Para entender melhor, pode se dizer que o partido Conservador no parlamento está dividido em várias facções.  Há os que apoiam um "no-deal", o seja, uma saída sem qualquer acordo.  É a opção mais radical, e o mais danoso à economia; há os que apoiam um "Hard Brexit" ou seja, um rompimento completo, mas negociado. É a opção preferida pela maioria dos que votaram pela saída; e há os que apoiam um "Soft Brexit",  ou seja, mantendo o Reino Unido o mais próximo possível da UE.  É a opção preferida dos que votaram contra a saída no referendo.  Ainda há outros no partido que estão a favor de um novo referendo, ou de cancelar o processo do Brexit por completo.  Nenhum desses grupos possui uma maioria dentro do partido conservador, daí a dificuldade de aprovar quaisquer das opções.  E olha que estamos falando apenas do partido  do governo, o partido Conservador.  Quando leva em conta os votos dos partidos de oposição, todos eles empenhados acima de qualquer outra consideração em dificultar a vida do governo,  vê-se como é difícil para o governo avançar com qualquer proposta.  De qualquer forma, não obstante as dificuldades relacionados acima Theresa May iniciou o processo de negociação com a UE e após vários meses de difíceis negociações chegou a um acordo, que precisava ser ratificado por todos os países da UE e pelo parlamento europeia e pelo parlamento britânico.  Apesar dos esforços do governo May, o parlamento britânico rejeitou os termos do acordo em três ocasiões entre janeiro e março de 2019, em parte porque a ala mais radical do partido Conservador considerava que o acordo deixava o Reino Unido próximo demais ao UE
 e principalmente, porque muitos não concordavam com o mecanismo proposto no acordo sobre como tratar a fronteira entre Irlanda e Irlanda do Norte.(O "Irish Back-stop").  Diante desse impasse o prazo para a saída do Reino Unido foi estendido até 31 de outubro de 2019, e Theresa May renunciou a liderança do partido Conservador e consequentemente ao cargo de primeira-ministra.  Após um processo para a escolha de um novo líder, o partido Conservador acabou por escolher Boris Johnson, o ex-Prefeito de Londres e um dos principais figuras na campanha pele saída do Reino Unido da UE, e no final de julho de 2019 ele assumiu o cargo de primeiro-ministro.

Assim que assumiu o governo, Boris Johnson anunciou o inicio de uma nova época de ouro para o país.  Avisou que iria negociar um novo acordo de saída com a UE, mas que o Reino Unido sairia do bloco impreterivelmente em 31 de outubro, com acordo ou sem acordo.  Chegou a afirmar que preferia morrer do que pedir uma extensão do prazo para além de 31 de outubro.  Após várias tentativas mal-sucedidas de reduzir a influencia de parlamento, inclusive um polemico plano de suspender a atividade parlamentar durante cinco semana (bloqueada por decisão do Supremo Corte), e outras tentativas frustradas de convocar novas eleições, foi obrigado a aceitar a impossibilidade de cumprir a promessa de sair da UE em 31 de outubro, e solicitar uma nova prorrogação da data, agora estendida até 31 de janeiro de 2020.  Não obstante isso,  e para surpresa geral, em meados de outubro Boris Johnson conseguiu negociar alterações importantes no acordo de saída negociado por Theresa May, principalmente relacionada a questão da fronteira entre Irlanda e Irlanda do Norte,  Pelo novo acordo, a Irlanda do Norte continuará dentro de uma reunião alfandegária com Irlanda e consequentemente com a EU, criando assim uma barreira alfandegária entre a Irlanda do Norte e o restante do Reino Unido.  Esse arranjo tem um prazo determinado para existir enquanto não esteja determinado qual será o futuro relacionamento comercial entre o Reino Unido e a UE.  Esse novo acordo de saída foi aprovado pelo parlamento britânico em primeira leitura, mas foi suspenso pelo governo quando o parlamento recusou de cumprir o curto prazo solicitado para a aprovação final, e com isso bloqueou a possibilidade da saída da UE em 31 de outubro.  Por fim, o governo lançou uma nova tentativa para convocar eleições gerais para dia 12 de dezembro e  após discussões no parlamento as eleições gerais acabaram sendo convocados para esta data.  É a primeira vez desde 1923 que eleições gerais são realizados em dezembro, época do ano em que os britânicos estão tradicionalmente mais preocupados com seus planos para Natal do que em eleger um novo parlamento. Aliás, é extremamente rara realizar eleições em quaisquer dos meses do inverno.  Agora, o atual parlamento será dissolvido e a campanha eleitoral começará na próxima semana.

E o que vai acontecer nas eleições?  Tudo é possível.  É possível que Boris Johnson e o partido Conservador consiga ampla maioria no parlamento de forma a assegurar que o Reino Unido sai da UE em 31 de janeiro de 2020, ou até antes. É uma eleição que Boris Johnson queria, e gostar dele ou não, tem que reconhecer que é o politico britânico com maior apelo popular, seja por seu irreverência ou por seu estilo carismático.  Mas é uma eleição de alto risco, que pode não resolver o impasse no parlamento, ou até inviabilizar Brexit completamente.  É quase certo que o partido Liberal-Democrata vai tirar cadeiras dos Conservadores no sul do país, assim como o SNP (Scottish National Party) vai tirar cadeiras dos Conservadores na Escócia.  Para a estratégia do Boris Johnson dá certo, terá que ganhar muitas cadeiras do partido Trabalhista para compensar essas perdas, e ainda formar a maioria que necessita no parlamento.   Para mim, isso é o maior incógnito.  As últimas pesquisas demonstram um queda acentuada na popularidade do seu líder Jeremy Corbyn, mas ele surpreendeu nas últimas eleições em 2017, e pode surpreender de novo.  De qualquer forma, pode-se preparar para uma campanha eleitoral agitada e movimentada.   Boa parte do eleitorado britânico estão absolutamente saturados pelas discussões em torno do Brexit e estão ansiosas para virar a página e seguir adiante com as suas vidas.  Vamos aguardar para ver no que vai dá.
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terça-feira, 1 de outubro de 2019

Recordar é Viver

Dei conta que hoje, dia 1º de outubro de 2019, faz exatamente 30 anos que assumi a gestão do Copacabana Palace, poucas semanas após o hotel ter sido adquirido da família Guinle pelo grupo inglês, Sea Containers, liderado pelo saudoso e carismático James Sherwood, que teve o mérito de enxergar em 1989 o que mais ninguém enxergavam, ou seja, que o Copacabana Palace ainda teria um futuro brilhante.  Enfim, são tantas lembranças, de fatos e de pessoas,  que a minha memória me leva de volta para  uma época distante e saudosa.

Tanta coisa se passou nesses 30 anos e tantas coisas mudaram, que mal dá para acreditar que são 'apenas" 30 anos.  De fato, qualquer semelhança do Copacabana Palace de 1989 com o Copacabana Palace de 2019 é mera coincidência, da mesma forma que o conceito de hotelaria de luxo em 2019 é totalmente diferente daquele existente em 1989.  Mas não é só isso, o mundo que vivemos hoje é tão diferente daquele de 30 anos atrás que até parece que estamos vivendo num outro mundo.  Pode se imaginar que em 1989, não havia um único computador no hotel e todos os processos internos desde aa reservas aos check-ins/check-outs eram realizados manualmente?  Que toda a escrituração contábil era manual?  Que não havia câmaras de segurança?  Que não existia telefones celulares? Que até os elevadores necessitavam de ascensoristas para funcionar?

O Copacabana Palace em 1989 era um hotel considerado antiquado e decadente, que ainda vivia de glórias passadas, principalmente do seu auge nas décadas de 1940 e 1950, quando o hotel viveu sua melhor fase, assim com o bairro de Copacabana, mas já com 66 anos de idade o hotel não conseguia mais competir com os novos "hotéis de cinco estrelas" como o Meridien, o Rio Palace, o Caesar Park, o Sheraton, o Rio Othon Palace, o Nacional, e o Intercontinental que haviam surgido na década de 1970 e dominavam o cenário hoteleiro carioca.  A família Guinle havia tentado aprovar vários projetos imobiliários, incluindo um do arquiteto Paulo Casé que resultaria na demolição do atual prédio e a construção de um novo hotel em forma de pirâmide que teria 700 apartamentos.  Esse, assim como outros projetos, foram todos rejeitados e acabaram por resultar no tombamento do hotel pelos órgãos de patrimônio histórico.  Para a família Guinle, o tombamento representou o "beijo de morte" para o Copacabana Palace.  Na década de 1980, todos acreditavam que somente os hotéis grandes de 400 ou 500 apartamentos poderiam ser competitivos, e o Copacabana Palace só dispunha de 145 apartamentos no seu prédio principal, e mais 78 no prédio do Anexo, que na época funcionava como um hotel independente, com sua entrada separada e quadro de pessoal distinto.  Se tudo isso não bastava, o hotel ainda contava com outro grande problema, que era a existência de uma gigantesco passivo trabalhista resultante do fato do hotel ter mais de 200 funcionários "estáveis", todos com mais de 30 anos de casa, que não eram optantes pelo regime do FGTS, que ainda se beneficiavam de um modelo de cobrança de taxa de serviço singular e perversa, que resultavam em 25% da receita de hospedagem ser subtraída em beneficio desse grupo antes que o hotel pagasse uma conta sequer.

Bem, foi isso o quadro com o qual me deparei em outubro de 1989,  ainda havia as  "cascas de banana" a evitar.  O mês de outubro é o mês do dissídio coletivo para o sindicato hoteleiro no Rio de Janeiro, fato que eu conhecia bem, pois já trabalhava há mais de 20 anos em hotelaria no Rio de Janeiro. Lá pelo dia 20 do mês fui procurado pelo Gerente de Recursos Humanos que trazia a folha de pagamento do mês de outubro para minha aprovação.  Me explicou que o mês de outubro era o mês do dissídio coletivo e me trouxe uma cópia do dissídio que indicava um aumento de 100% sobre os salários de um ano atrás (lembram -se que ainda vivíamos épocas de inflação alta).  Olhei atentamente a folha e disse, "estou vendo que você aplicou o 100% de aumento sobre os salários de setembro, e não compensou os aumentos espontâneos que foram concedidos em janeiro e setembro, conforme a lei manda."  "Sim", respondeu o Gerente de Recursos Humanos, "mas é tradição do Copa não compensar os aumentos espontâneos concedidos ao longo do ano, e aplicar o aumento do dissídio sobre o salário do mês passado".  "Ahh é", respondi,  "então é uma tradição que acaba agora".  Rasquei a folha toda e mandei recalcular compensando os aumentos espontâneos, e fiquei pensando, se eu fosse um gringo recém chegado, talvez caísse nessa armadilha.  E é claro, tratei logo que substituir o Gerente de Recursos Humanos.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

O 31 de Março que Eu Vivi.

Já que vejo muitas pessoas fazendo  recordações e dando suas opiniões sobre os eventos de 31 de março de 1964, também me sinto no direito de fazer o mesmo, já que eu também vivenciei esta época e tenho muitas recordações pessoais desse tempo.  Antes, um esclarecimento.  Não obstante ter nascido na Inglaterra e ser detentor de passaporte britânico, sou brasileiro naturalizado, detentor de passaporte brasileiro e título de eleitor, portanto credenciado a emitir opiniões sobre questões políticas brasileiras.

Cheguei no Brasil no final de 1960, logo após a eleição de Jânio Quadros para o cargo de Presidente da República, cargo que ele viria a assumir em 31 de janeiro de 1961.  O Jânio era um figura estranha e excêntrica, tanto na aparência como no comportamento, mas mesmo assim seu repentino renuncio em agosto de 1961 - apenas sete meses após ter assumido a Presidência - pegou o país de surpresa e abriu uma grave crise politica pois nem os militares, nem boa parte da população queria ver o seu vice, João Goulart, um confessado "socialista", que muitos identificaram como "comunista", assumir a presidência.  Também não ajudou o fato que Goulart se encontrar em visita oficial à China comunista de Mao Tsé-Tung no momento da renuncia do Jânio, e havia grupos no Congresso Nacional que se opuserem ao seu regresso ao país.  Goulart era apoiado por seu cunhado Leonel Brizola, Governador do Rio Grande do Sul e parte das Forças Armadas, e foi através de Porto Alegre que Goulart voltou ao país. Por um breve período parecia que o país caminhava para uma guerra civil, mas a crise foi contornada com a introdução do parlamentarismo, com o poder executivo na mão de um primeiro-ministro enquanto Goulart assumiu como Presidente, com poderes bastante reduzidos.  A emenda constitucional que introduziu o parlamentarismo incluía uma clausula prevendo um plebiscito que seria realizado em 1965 para decidir se o parlamentarismo seria continuado no próximo mandato presidencial, ou se reverteria para Presidencialismo.

Na época eu tinha 15 anos de idade e estudava na Escola Americana, que naquele tempo era localizado no final da Avenida General Urquiza no Leblon.  Me lembro bem das orientações que os alunos recebiam para manter um "low-profile" nas suas deslocações entre suas casas e a escola, pois estávamos no auge da guerra fria entre os Estados Unidos e seus aliados de um lado, e a União Soviética do outro lado, e havia um clima anti-americano, pelo menos entre os adeptos do Jango, como João Goulart era conhecido. Me lembro do ano de 1962 como um ano de extrema agitação política e um crescente polarização entre a direita e a esquerda, com greves e manifestações ocorrendo a toda hora.  No meio disso, Goulart conseguiu antecipar o plebiscito sobre o Presidencialismo/Parlamentarismo, previsto para acontecer somente em 1965 para janeiro de 1963.  No plebiscito, os eleitores tinham que escolher entre o Sim (a favor do restabelecimento do Presidencialismo), ou Não (contra).  A campanha a favor do Sim foi maciça com todas os muros e postes da cidade totalmente tomadas com a propaganda eleitoral.  No fim, o voto pelo Sim obteve mais de 80% dos votos, e o país voltou a ser regido pelo Presidencialismo, com João Goulart assumindo integralmente os poderes de um Presidente.

Apesar disso, os greves e a agitação social não cessou.  Como Goulart não tinha um base de apoio no Congresso, ele recorria a uma postura populista que mantinha os sindicatos e as classes populares em permanente mobilização para pressionar o Congresso para aprovar as reformas que pretendia introduzir.  Com isso ele abandonou o programa de austeridade econômico que tinha sido introduzido com o objetivo de frear a inflação.  Medidas populares como o aumento do salário mínimo e a introdução do 13º salário contribuírem para aumentar ainda mais a inflação, ao mesmo tempo a economia crescia cada vez menos.  Esse é o quadro que me lembro dos anos de 1962 e 1963.  A tudo isso eu assistia de camarote, mas não apenas como um típico morador da zona sul carioca.  Por sorte das circunstâncias  a minha visão da realidade brasileira foi um pouco mais abrangente da maioria. Isso porque um dos meus melhores amigos na Escola Americana era um menino brasileiro, chamado Joaquim.  Nós dois tínhamos em comum um amor por futebol e fazíamos parte do time de futebol de salão da escola.  Aliás, foi o primeiro time de futebol de salão a ser formado pela Escola Americana.  Faziam parte, além de Joaquim e eu, um alemão, um húngaro, um chinês, um americano, e mais dois ou três brasileiros.  Era um timaço, ........mas isso já é outra história!

Voltando ao meu amigo Joaquim.  Ele havia nascido num família pobre na baixada fluminense, e quando pequeno ganhava alguns trocados vendendo amendoim nos trens da Central, quando acabou sendo "adotado" por um casal de americanos residentes no Rio.  Os americanos levaram Joaquim para estudar nos Estados Unidos por um período de quatro anos, após o qual regressaram ao Brasil, e Joaquim foi estudar na Escola Americana.  Ocorre que Joaquim, embora morasse com os "pais" americanos num confortável apartamento na Urca, também mantinha um contato estreita com sua mãe biológica, que morava numa casa muito simples em Mesquita, que naquele tempo era um sub-distrito do município de Nova Iguaçu.  Como eu e Joaquim nos tornamos grandes amigos, fui muitas vezes à Mesquita, (andando sempre nos trens da Central)  onde passei várias finais de semana, visitando os familiares e amigos do Joaquim.  Era muito divertido pois normalmente jogávamos futebol pela manhã e depois bebíamos cerveja com os garotos, e a noite frequentavas alguma festa onde fazíamos algum sucesso com as garotas locais, eu, porque falava português com sotaque de gringo, e sabia traduzir para português as letras dos sucessos americanos do momento, e Joaquim, até porque já era um especie de celebridade em Mesquita.  Além de visitar Mesquita, as vezes íamos para Volta Redonda, onde o irmão do Joaquim trabalhava na siderurgia nacional.  O contraste entre Mesquita e Volta Redonda era enorme.  Enquanto Mesquita era um local muito pobre, sem ruas asfaltadas, e casas muito simples, Volta Redonda mais parecia uma cidade americana do interior, com boas casas, e ruas asfaltadas e arborizadas.  Parecia ser uma cidade totalmente planejada.

Para mim, a experiencia de poder conviver, mesmo por pouco tempo, com realidades muito distantes da realidade da zona sul carioca foi de grande valia, e as recordações que tenho dos anos de 1962 e 1963  misturam experiencias vividas tanto na zona sul carioca como na baixada fluminense e Volta Redondo, o que  permitiu uma ampliação da minha visão da realidade brasileira.  Essa vivencia brasileira foi interrompida em agosto de 1963, quando voltei para Inglaterra pois meus pais queriam que eu completasse meus estudos secundários no sistema britânico, e só retornei ao Brasil em outubro de 1964.  Com isso, perdi completamente os incidentes finais que resultaram nos acontecimentos de 31 de março de 1964, e a deposição do Presidente João Goulart.  Mesmo assim, não foi com nenhuma surpresa que eu li nos jornais da Inglaterra as notícias da deposição do Presidente.  Para quem havia acompanhado de perto os acontecimentos a partir da renuncia do Jânio em 1961 era quase um desfecho inevitável.  O crescimento do PIB em 1963 havia despencado para apenas 0,6%, enquanto a inflação atingiu 79,9%. O quadro abaixo demonstra a evolução do crescimento do PIB e da inflação desde 1960, e deixa claro o colapso da economia durante o período.

                                Ano                      PIB                 Inflação
                               1960                     +9,4%               30,4%
                               1961                     +8,6%               47,8%
                               1962                     +6,6%               51,6%
                               1963                     +0,6%               79,9%

As tentativas de reforma cada vez mais radicais da dupla Goulart/Brizola, expostas de uma forma clara no comício da Central no Rio de Janeiro em 13 de março que incluía o incentivo ao rompimento da hierarquia dentro das Forças Armadas, convenceu boa parte da classe média que o país estava à beira de um golpe que tinha como objetivo a instalação de uma revolução socialista no país.  Esta ameaça foi respondida por um serie de demonstrações chamadas de Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que pediam o afastamento de Goulart.  A primeira dessas marchas foi realizada em São Paulo em 19 de março, mas ao todo foram realizadas 49 marchas em todo o Brasil, se estendendo até o mês de junho.  Após a derrubada do Goulart em 31/03, as marchas tomaram o nome de Marcha da Vitória.  A marcha realizada no Rio de Janeiro em 2 de abril reuniu mais de um milhão de pessoas.

O Brasil que encontrei em outubro de 1964 parecia um outro país comparado com aquele eu havia deixado apenas 15 meses antes.  As ruas estavam bem mais calmas e não havia mais a agitação política que antes existia, e pelo menos na zona sul carioca, havia um clima de otimismo no futuro do país, já que a ameaça socialista havia sido afastada.  Ao refletir sobre  os eventos que ocorrerem 55 anos atrás, não posso deixar de registrar o fato que a derrubada do Goulart foi maciçamente apoiada por grande parte da população brasileira, a começar pela classe média, pelos empresários, pela Igreja Católica, pelos políticos, pela imprensa, e pelas Forças Armadas.  É verdade, pelas elites, como muitos afirmam.  Mas também deve se registrar que a derrubada do Goulart não encontrou nenhuma grande resistência popular.  A resistência que houve foi esporádica e eventual e em nenhum momento envolveu as classes populares.  Menos de um ano após a derrubada de Goulart, eu comecei a minha jornada em hotelaria quando entrei em Hotéis Othon como "trainee". A primeira etapa do programa de "trainee" consistia em passar dois anos num hotel (o Leme Palace) trabalhando em praticamente todas as funções existentes, começando pela cozinha, e estando sujeito as mesmas normas de qualquer outro empregado, sem nenhuma regalia ou tratamento diferenciado. A principal vantagem dessa dura experiência foi que me deu uma visão clara do negócio, e do mundo, visto através da ótica dos funcionários subalternos, o que foi de grande valia mais tarde para o desenvolvimento da minha carreira. Mas o eu quero enfatizar aqui é que em nenhum momento senti, por parte dos trabalhadores mais humildes, qualquer sentimento de insatisfação pelo final do governo Goulart.  Pelo contrário, a grande maioria manifestava satisfação pelo fim da instabilidade vivida nos anos anteriores.

Para concluir, quero lembrar que meus comentários aqui expostos são baseados em recordações pessoais de quem viveu esta época.  Não sou dono da verdade e politicamente não sou da esquerda, e também não sou da direita. Já votei no PT e já votei no PSDB.  Procuro votar no que eu acho melhor para o país naquele momento.  Para mim, o movimento de 31 de março de 1964 foi uma consequência direta da renuncia do Jânio em agosto de 1961, e encerrou uma  etapa de grande agitação politica, ideológica, e social, que teria terminada de forma muito pior se fosse permitido continuar. Neste sentido, eu me coloco ao lado daqueles que considerem o movimento de 31 de março como um contra-golpe ao golpe pretendido por Goulart e seus seguidores. Pode se argumentar que o processo eleitoral existente em 1960, que permitiu uma eleição separada para vice-Presidente e consequentemente a formação de uma chapa totalmente antagônica foi o responsável pelos eventos que se sucederem, mas a renúncia do Jânio foi o estopim que deu inicio ao processo.  Na minha opinião, a tentativa de culpar, e até demonizar as Forças Armadas pelos eventos de 31 de março é equivocada e injusta.  O mínimo que se deve reconhecer é que o movimento que levou à deposição do Goulart em 31 de março foi um movimento cívico/clérigo/politico/militar, além de ser apoiado por grande parte da imprensa brasileira, e diante das opções existentes na época, benéfico para o futuro da nação.

O que veio a acontecer depois de 31 de março,  principalmente após a decretação do AI-5 em dezembro de 1968 é outra história, e deve ser tratada como tal.  A intenção inicial dos perpetradores do movimento de 31 de março era de realizar eleições presidenciais em 1965.  Isso acabou não acontecendo.  Os excelentes livros do Elio Gaspari - leitura obrigatória para quem entender melhor a história recente do Brasil - conta em detalhes o desenrolar de eventos que resultaram no decreto do AI-5, assim como os eventos subsequentes.  Mas, como já afirmei aqui, isto é uma história para um outro dia. Minha intenção nesse relato é meramente recordar as minhas experiências relacionadas ao movimento de 31 de março de 1964.

quinta-feira, 28 de março de 2019

O Fla x Flu e o Saudosísmo


Faz tempo que não frequento o Maracanã.  Acho que a última vez que lá estive foi durante os Jogos Olímpicos, quando assisti um jogo de futebol feminino.   Nem me lembro a última vez que assisti um jogo do Flamengo, mas deve fazer pelo menos cinco anos.  Nem pela televisão tenho assistido os jogos do Flamengo, com exceção de um ou outro jogo que eventualmente passa num canal de TV aberto, já que minha assinatura do Futebol Premier foi cancelada faz tempo.

Foi então, quase por acaso, que ontem deparei com um Fla x Flu na Globo, em horário nobre.  Um jogo válido pela semi-final da Taça Rio, e portanto um jogo decisivo com ambos os times escalando seus melhores jogadores.  O empate favorecia o Fluminense, portanto Flamengo precisaria ganhar o jogo para se classificar.  Sentei na poltrona, na expectativa de assistir um grande jogo à altura das tradições dos Fla x Flu's do passado.  Isso é um problema para os mais velhos,  a capacidade de ainda recordar, com saudosismo, os craques e jogos épicos do passado e a comparação com o presente é inevitável.  Lamentavelmente, o que eu assisti ontem foi um festival de péssimo futebol, de erros de arbitragem, erros no uso do VAR, de violência entre os jogadores, de indisciplina generalizada, tanto dos jogadores como das comissões técnicas de ambos os times.  Em suma, foi um espetáculo da pior qualidade, que não me deixou com a menor vontade de voltar a frequentar o Maracanã.  É comum hoje ouvir falar da decadência do futebol brasileiro, e do carioca em particular, e quem quisesse ter uma prova disso bastava ter assistido ao jogo de ontem.

No fim, o Flamengo venceu o jogo por 2x1 e classificou para o final, graças a um gol de pênalti marcado aos 47 minutos do segundo tempo, no que deve entrar na história como um dos mais absurdos e desnecessários pênaltis cometidos por um jogador do Fluminense em toda a sua história.  Não deu nem para comemorar a vitória, apenas lamentar o triste espetáculo, mais triste ainda para aqueles, como eu, que já presenciaram  coisa bem melhor.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Eu e o Maracanã


A primeira vez que fui no Maracanã foi em 1962, quando fui assistir a partida entre Santos e Benfica no primeiro jogo da Taça Intercontinental, como era conhecido naquela época, e que hoje corresponde ao Mundial de Clubes.  Foi um jogaço.  De um lado Santos de Pelé e Coutinho e Pepe e tantos outros craques, e do outro Benfica, do genial Eusébio.  Santos venceu o jogo pelo placar de 3 x 2, mas no segundo jogo, 3 semanas depois em Lisboa, Santos venceu novamente, dessa vez pelo placar de 5 x 1, sagrando assim campeão mundial de clubes.

Logo depois, assisti meu primeiro jogo do Flamengo no Maracanã, uma vitória de 2x0 sobre Bangu, e pronto, como num passo de mágico, eu havia me tornado rubro-negro.  Uma vez Flamengo, sempre Flamengo. Dali, até o final da década de '90, calculo ter ido ao Maracanã mais de mil vezes.  Não perdia um jogo sequer do Mengão.  Podia ser uma terça-feira a noite contra Olaria, ou um Domingo contra Vasco, não importava, eu estava lá, com camisa, bandeira, e a almofada (rubro-negra) que toda frequentador assídua da arquibancada levava ao estádio..

Fora os jogos do Flamengo, também comparecia ao Maracanã sempre que a seleção brasileira lá jogava, incluindo nisso a serie de 3 jogos em que a seleção jogava em casa, contra Colombia, Venezuela, e Paraguai, respectivamente,  para a classificação  para a Copa de 1970.  O último desses jogos foi contra Paraguai, e a seleção necessitavam apenas empatar para garantir a vaga para a Copa.
O jogo estava marcada para começar as 16 horas.  Saí de casa no Leblon, junto com quatro amigos, às 9.30 da manhã e chegamos no Maracanã por volta das 10 horas e conseguimos entrar no estacionamento que naquele tempo ainda existia dentro do complexo do Maracanã, e ficamos esperando as roletas abrirem as 11 horas para dar acesso à arquibancada, conforme a previsão.  Por sorte nossa, a nossa roleta, vindo do estacionamento, abriu alguns instantes antes das roletas principais.  Nesse dia, o acesso à arquibancada era somente pelo anel superior e subi as duas rampas num pique impressionante, e fui a primeira pessoa a acessar a arquibancada.  Escolhi uma posição exatamente na linha intermediária do campo e sentei.  Eram 11 horas e cinco minutos.  Ao meio-dia, se levantasse, não sentaria mais, pôs nessa altura, além de estamos apertadas feitos sardinhas na lata, tinha pessoas nos meus pés e outras nas minhas costas.  Como não tinha nada a fazer, nem nada para assistir, pois não houve jogo preliminar, a diversão da torcida era de dar empurrões nos retardatários que tentavam se equilibrar entre os degraus enquanto buscavam um local para sentar, e vê-los rolar por cima das cabeças de quem já estava sentado.  Considero um pequeno milagre que não morreu ninguém.  Oficialmente, teve 195.000 pessoas presentes (183.000 pagantes, um recorde de pagantes), e Brasil ganhou o jogo por 1x0, gol de Pelé.

Apesar da confusão daquele dia, não foi essa o maior sufoco que passei  no Maracanã.  A pior situação que enfrentei foi na tentativa de comprar ingressos pra um Flamengo x Vasco, no dia 1º de maio de 1968.  Como se sabe, o ano de 1968 foi um ano tumultuado em vários países do mundo, como os protestos dos estudantes em Paris e o movimento contra a guerra do Vietnam nos Estados Unidos, para citar os mais conhecidos. No Brasil, o governo militar também estava pressionado por um crescente movimento de protesto estudantil contra a ditadura, e estava sendo organizado uma grande manifestação no feriado de 1º de maio - o Dia do Trabalhador.  Supostamente para esvaziar a manifestação, foi programado um Flamengo x Vasco, para o mesmo dia.  Entre ir para a manifestação ou ir para o Maracanã, eu escolhi o Maracanã,  Chegando lá, como de hábito, duas horas antes da partida começar, encontrei um enorme fila nas bilheterias para comprar ingressos para a arquibancada.  Mesmo assim, entrei na fila, que quase não andava.  Enquanto isso, não parava de chegar gente, com todo mundo empurrando quem estava na frente.  Após um tempo, correu a notícia que as bilheterias havia fechadas pois os ingressos haviam esgotados.  Só que ninguém conseguia mexer, pois cada vez chegava mais gente  e as pessoas mais a frente estavam sendo esmagados contra as grades da bilheteria.  Várias pessoas começaram a ficar desesperadas e passar mal, mas ninguém conseguia se mexer, com a multidão atrás empurrando para frente e as pessoas mais a frente ficando cada vez mais difícil respirar.  Comecei a achar que eu iria morrer asfixiado mas quando a situação estava ficando muito feia, apareceu dois PM's da cavalaria que meterem os cavalos por cima da multidão, que logo se dispersou, evitando assim o esmagamento.  Saí de lá com as pernas bambas mas ainda fui procurar ingressos para o Geral, mas esses também estavam esgotados.  Foi a única vez que fui ao Maracanã e não consegui entrar no estádio.

Em 1971 assisti dois eventos notáveis, a despedida do Pelé da seleção brasileira num jogo amistoso contra Yugoslavia (o jogo terminou 2x2), e a estreia do Zico no time principal do Flamengo.  Ainda levou alguns anos para o garoto franzino se firmar como titular do Flamengo mas a torcida toda sabia que tínhamos uma joia rara.  De fato, quem teve, como eu, o privilegio de acompanhar a carreira do Zico no Flamengo ao longo das décadas de '70 e '80 sabe que desfrutou de tudo que uma torcida pode almejar na vida.  Foi uma época gloriosa, com grandes craques, grandes jogos, e grandes conquistas.  Quem viu, viu, quem não viu, não verá nunca mais, isso que é a realidade.

Nos anos '90, continuei frequentando o Maracanã, mas nesta altura eu já havia migrado para as cadeiras especiais, e até a tribuna honra, pois de vez em quando acompanhava visitantes VIP's ao estádio.  Eu estava lá  em 1992 quando Flamengo conquistou mais um campeonato nacional, e assisti, horrorizado, quando rompeu uma parte da grade da arquibancada onde ficava a torcida do Flamengo e dezenas de rubro-negros caírem nas cadeiras embaixo.  A culpa do acidente foi das autoridades responsáveis pelo estádio pois haviam divididos o espaço da arquibancada meio a meio entre as torcidas do Flamengo e Botafogo, quando a torcida do Flamengo é no mínimo três vezes maior que a do Botafogo.  Resultado, os flamenguistas estavam todos espremidos enquanto o lado do Botafogo sobrava espaços vazios.

Já no final da década de '90 o Maracanã começou a passar por uma serie de reformas de modernização, e que consumiu mais de R$2 bilhões de dinheiro público, que resultou no estádio que temos hoje, que  na minha opinião, não chega aos pés do original.  A retirada do Geral tirou um espaço popular que contribuía muito para a alma do estádio, além de proporcionar a oportunidade de pessoas de baixa renda ter acesso aos jogos por preços razoáveis.  Depois a colocação de cadeiras na arquibancada reduziu muito a capacidade do estádio.  Outro fator negativo, ao meu ver, foi o crescimento do espaço das cadeiras especiais, "invadindo" o espaço que antes pertencia às arquibancadas.  O resultado dessa modernização é que o estádio hoje tem capacidade para apenas 78.000 espectadores, os ingressos são muitíssimo mais caros, e o ambiente eletrizante que existia sempre que havia um jogo 'clássico" não existe mais.

O que me motivou a fazer estas recordações foi a confusão extrema que testemunhamos neste último Domingo, por ocasião do final da Taça Guanabara entre Fluminense e Vasco da Gama, e tudo provocado por uma discussão idiota sobre qual torcida deverá ficar posicionada à direita dos cabines de rádio.  Ora, até o Sobrenatural de Almeida sabe que o lugar à direita dos cabines de rádio pertence ao Vasco, assim como o espaço à esquerda pertence ao Flamengo.  É assim desde sempre, desde que o mundo é mundo, ou melhor, desde que o Maracanã é Maracanã.  Fluminense, por sua vez, fica à esquerda, mas saí para a direita quando enfrenta Flamengo, e Botafogo fica à direita, mas sai para a esquerda quando enfrenta Vasco.  Tudo muito fácil, sem problemas.  Não me venham dizer que o Fluminense tem contrato desde 2013 com os concessionários do estádio para ficar à direita dos cabines do rádio quando tem mando de campo, e outros blá blá blá.  Isso é um desrespeito às tradições do Estádio, uma burrice sem tamanho, e um convite ao caos que acabamos de testemunhar domingo passado.  Não gosto do Vasco, como também não gosto do Fluminense (apesar de ter netos de ambos esses times), mas fiquei feliz que Vasco venceu o jogo para Fluminense deixar de ser besta, e voltar para seu devido lugar.  E para finalizar, estou inteiramente a favor do projeto de transformar o espaço atrás dos gols em áreas que podem ficar de pé, desde que pratica preços populares.  Vamos trazer o povo de volta ao Maracanã e, quem sabe, reviver a alegria de antigamente!
!






quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Ricardo Boechat e o Livro do Copa




Lamentavelmente, o Brasil acaba de perder um dos seus grandes jornalistas e apresentadores na pessoa do Ricardo Boechat, vitima do trágico acidente de helicóptero ante-ontem em São Paulo.  O trajetória de sucesso do Boechat como jornalista e apresentador de rádio e televisão é amplamente conhecido e o impacto de sua morte trágica e prematura é lamentada por milhões de pessoas no Brasil inteiro.  Sem dúvida fará muita falta para muita gente, sem falar de sua própria família,  que é onde certamente sua ausência será ainda mais sentida.

Como milhões de outras pessoas, eu também vou sentir muito a sua falta.  Conheço Ricardo há mais de 30 anos, desde que ele era responsável pela coluna do Swann no Jornal Globo, e acompanho seu trajetória de sucesso desde este tempo.  O estilo combativo e questionador do Ricardo, e até sua rebeldia, eram marcas características de sua personalidade, como eram também sua simplicidade, generosidade, e grande humanidade.  Tinha uma grande sensibilidade para as injustiças sociais existentes no Brasil e lutava todos os dias para tornar Brasil um país melhor.  É por isso que ele fará tanta falta, para tantas pessoas.

De uma certa forma, é até irônico que Ricardo começou sua carreira vitoriosa de jornalista no colunismo social, pois o mundo da elite carioca frequentadora das colunas sociais no início da década de '70 era um mundo totalmente antagônica ao mundo vivido por Ricardo, naquela época um membro de carteirinha e tudo do PCdoB.  Talvez por isso, que Ricardo é creditado como sendo um dos responsáveis pela transformação das colunas sociais em espaços que apenas tratavam de relatar as historias da elite carioca para um espaço para publicar assuntos de interesse geral da cidade.

De qualquer forma, foi no Copacabana Palace, no início da década de '70, que Ricardo deu seus primeiros passos no jornalismo.  Contratado pelo hotel como Assessor de Imprensa, após recomendação do então ícone do colunismo, Ibrahim Sued, que fazia da piscina do Copacabana Palace seu quartel-general, o trabalho de Ricardo era de garimpar notícias sobre as celebridades que se hospedavam no hotel para passar para a coluna social. Não demorou muito para que Ricardo passasse a assessorar diretamente Ibrahim, e com quem colaborou por 13 anos, ..."and the rest is history," como se diz.  O certo é, por causa desse início de carreira, o Ricardo conhecia muito bem os bastidores do Copacabana Palace e sempre demonstrou um carinho muito especial, tanto para o hotel, como para seus colaboradores.

Anos mais tarde, já na década de '90, estávamos às voltas com a idéia de produzir um livro relatando a história única do Copacabana Palace.  Para dar o início  ao livro, o Gerente de Comunicações do hotel na época, o jornalista Eugênio Lyra Filho, e a RP do Hotel, Claudia Fialho, auxiliados por uma equipe de pesquisadores, haviam reunida uma extensa documentação com as histórias do passado.  A ideia inicial foi que o texto do livro seria escrito por Eugênio Lyra,  mas infelizmente Eugênio veio a falecer após uma cirugia cardíaca, e o projeto de escrever o livro ficou paralisado por algum tempo.  

Foi por ocasião da celebração do aniversário de 75 anos do hotel, em 1998, que o projeto de publicar o livro foi retomado.  Não me lembro exatamente como, mas provavelmente por sugestão de Claudia Fialho, autora de muitas boas idéias, surgiu a idéia de convidar Ricardo Boechat para escrever o livro.     Nesta altura, Ricardo já era um jornalista consagrado, e super ocupado, mas mesmo assim, após muito trabalho de convencimento, concordou em escrever o livro.

Foi a partir desse momento que passei a ter um contato quase diário com Ricardo, ao longo de vários meses, na medida que o texto do livro ia tomando forma,  e a minha profunda admiração pela pessoa do Ricardo vem desse tempo.  O trabalho de desenvolver o texto foi exaustivo, pois reunir milhares de pequenas histórias num texto coerente e de agradável leitura só seria possível para um grande jornalista.  O resultado do livro, que é um relato não apenas das histórias do hotel, mas também do próprio bairro de Copacabana, assim como da cidade do Rio de Janeiro na sua época mais gloriosa é um testemunho da grande competência do Ricardo, e que ficará conosco para sempre.

Depois do sucesso da primeira edição do livro, foram feitas mais duas edições para comemorar respectivamente os aniversários de 80 e 85 anos do hotel.  Em ambas essas edições o texto que atualizava a história do hotel foi desenvolvido com maestria por Ricardo, na última relatando com detalhes aspectos relacionados à hospedagem dos Rolling Stones por ocasião do épico show na praia de Copacabana em 2006.

Agora, leio nos jornais que a direção do Copacabana Palace pretende homenagear Ricardo inaugurando uma fotografia sua na galeria de fotos de celebridades que já se hospedarem no hotel.  É uma homenagem justa, e mais que merecida, embora Ricardo seria a primeira pessoa a rejeitar o rótulo de celebridade.  Era isso o Ricardo que eu conhecia, e de quem já sinto uma imensa saudade.






quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

O Sucesso do Reveillon no Rio de Janeiro






Apesar de não ser nenhuma novidade, não deixa de surpreender o enorme sucesso alcançado pela hotelaria carioca por ocasião dos festejos de Reveillon 2018/2019.  O que mais me impressiona não é o fato que quase todos os hotéis registraram taxas de ocupação acima de 95% (com muitos hotéis alcançando 100% de ocupação), e sim, o valor alcançado pelas diárias médias.  Em Copacabana, que continua sendo o epicentro do evento, graças à queima de fogos no dia 31/12 , era comum ver hotéis na orla alcançando diárias médias cinco vezes maiores que os preços normalmente praticados.  E mesmo nos hotéis fora da orla de Copacabana, assim como nos demais bairros da zona sul, foram raros os hotéis que não conseguiram diárias médias três vezes acima do normal.  

Outro fato que chama atenção é o desempenho positivo dos hotéis localizados na Barra da Tijuca.  Ali também, quase todos os hotéis registraram taxas de ocupação próximas a 100%, e com diárias médias duas ou três vezes acima dos normais.  Vale a pena registrar o fato que os hotéis localizados na orla da Barra de Tijuca já vem há alguns meses registrando um aumento significativo de turistas de lazer, principalmente de brasileiros, e as perspectivas para o verão de 2019 são bastante positivas.  Se o crescimento observado na Barra continua nesse ritmo, já é possível prever o dia em que o desempenho dos hotéis da orla da Barra começarão a igualar, ou até superar, seus concorrente da zona sul!  Já para os hotéis  localizados fora da orla, principalmente nas proximidades da Avenida Abelardo Bueno, a dependência em grandes eventos, e o sucesso do RioCentro continua sendo a realidade.


Não obstante o sucesso de Reveillon, o ano de 2018 como um todo não deixará saudades para os hoteleiros cariocas.  Embora houve um modesto melhora em relação ao ano de 2017, o desempenho geral dos hotéis continua bem abaixo dos níveis alcançados cinco ou seis anos atrás.  Por outro lado, considerando todas as mazelas pelas quais a cidade passou nestes últimos tempos os hoteleiros podem até sentir aliviados pelo fato da situação não ser muito pior.  Agora, com um novo Governo tomando posse, as esperanças de dias melhores renascem.  Como este Reveillon acabou de demonstrar, a atração da cidade como destino turístico continua imbatível.  Imagine o que seria com uma cidade organizada e seguro, e bem promovida.  Será que isso é pedir demais?