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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Ricardo Boechat e o Livro do Copa




Lamentavelmente, o Brasil acaba de perder um dos seus grandes jornalistas e apresentadores na pessoa do Ricardo Boechat, vitima do trágico acidente de helicóptero ante-ontem em São Paulo.  O trajetória de sucesso do Boechat como jornalista e apresentador de rádio e televisão é amplamente conhecido e o impacto de sua morte trágica e prematura é lamentada por milhões de pessoas no Brasil inteiro.  Sem dúvida fará muita falta para muita gente, sem falar de sua própria família,  que é onde certamente sua ausência será ainda mais sentida.

Como milhões de outras pessoas, eu também vou sentir muito a sua falta.  Conheço Ricardo há mais de 30 anos, desde que ele era responsável pela coluna do Swann no Jornal Globo, e acompanho seu trajetória de sucesso desde este tempo.  O estilo combativo e questionador do Ricardo, e até sua rebeldia, eram marcas características de sua personalidade, como eram também sua simplicidade, generosidade, e grande humanidade.  Tinha uma grande sensibilidade para as injustiças sociais existentes no Brasil e lutava todos os dias para tornar Brasil um país melhor.  É por isso que ele fará tanta falta, para tantas pessoas.

De uma certa forma, é até irônico que Ricardo começou sua carreira vitoriosa de jornalista no colunismo social, pois o mundo da elite carioca frequentadora das colunas sociais no início da década de '70 era um mundo totalmente antagônica ao mundo vivido por Ricardo, naquela época um membro de carteirinha e tudo do PCdoB.  Talvez por isso, que Ricardo é creditado como sendo um dos responsáveis pela transformação das colunas sociais em espaços que apenas tratavam de relatar as historias da elite carioca para um espaço para publicar assuntos de interesse geral da cidade.

De qualquer forma, foi no Copacabana Palace, no início da década de '70, que Ricardo deu seus primeiros passos no jornalismo.  Contratado pelo hotel como Assessor de Imprensa, após recomendação do então ícone do colunismo, Ibrahim Sued, que fazia da piscina do Copacabana Palace seu quartel-general, o trabalho de Ricardo era de garimpar notícias sobre as celebridades que se hospedavam no hotel para passar para a coluna social. Não demorou muito para que Ricardo passasse a assessorar diretamente Ibrahim, e com quem colaborou por 13 anos, ..."and the rest is history," como se diz.  O certo é, por causa desse início de carreira, o Ricardo conhecia muito bem os bastidores do Copacabana Palace e sempre demonstrou um carinho muito especial, tanto para o hotel, como para seus colaboradores.

Anos mais tarde, já na década de '90, estávamos às voltas com a idéia de produzir um livro relatando a história única do Copacabana Palace.  Para dar o início  ao livro, o Gerente de Comunicações do hotel na época, o jornalista Eugênio Lyra Filho, e a RP do Hotel, Claudia Fialho, auxiliados por uma equipe de pesquisadores, haviam reunida uma extensa documentação com as histórias do passado.  A ideia inicial foi que o texto do livro seria escrito por Eugênio Lyra,  mas infelizmente Eugênio veio a falecer após uma cirugia cardíaca, e o projeto de escrever o livro ficou paralisado por algum tempo.  

Foi por ocasião da celebração do aniversário de 75 anos do hotel, em 1998, que o projeto de publicar o livro foi retomado.  Não me lembro exatamente como, mas provavelmente por sugestão de Claudia Fialho, autora de muitas boas idéias, surgiu a idéia de convidar Ricardo Boechat para escrever o livro.     Nesta altura, Ricardo já era um jornalista consagrado, e super ocupado, mas mesmo assim, após muito trabalho de convencimento, concordou em escrever o livro.

Foi a partir desse momento que passei a ter um contato quase diário com Ricardo, ao longo de vários meses, na medida que o texto do livro ia tomando forma,  e a minha profunda admiração pela pessoa do Ricardo vem desse tempo.  O trabalho de desenvolver o texto foi exaustivo, pois reunir milhares de pequenas histórias num texto coerente e de agradável leitura só seria possível para um grande jornalista.  O resultado do livro, que é um relato não apenas das histórias do hotel, mas também do próprio bairro de Copacabana, assim como da cidade do Rio de Janeiro na sua época mais gloriosa é um testemunho da grande competência do Ricardo, e que ficará conosco para sempre.

Depois do sucesso da primeira edição do livro, foram feitas mais duas edições para comemorar respectivamente os aniversários de 80 e 85 anos do hotel.  Em ambas essas edições o texto que atualizava a história do hotel foi desenvolvido com maestria por Ricardo, na última relatando com detalhes aspectos relacionados à hospedagem dos Rolling Stones por ocasião do épico show na praia de Copacabana em 2006.

Agora, leio nos jornais que a direção do Copacabana Palace pretende homenagear Ricardo inaugurando uma fotografia sua na galeria de fotos de celebridades que já se hospedarem no hotel.  É uma homenagem justa, e mais que merecida, embora Ricardo seria a primeira pessoa a rejeitar o rótulo de celebridade.  Era isso o Ricardo que eu conhecia, e de quem já sinto uma imensa saudade.






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