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domingo, 22 de janeiro de 2012

Chegando no Copacabana Palace

No início de 1989 comecei a pensar seriamente na possibilidade de sair do Brasil para continuar minha carreira talvez na Europa, que seria a minha preferência, nos Estados Unidos, ou eventualmente na Ásia, que vivia um “boom” de crescimento na área de turismo e hotelaria.  O movimento no Rio Palace ainda continuava bom, entretanto, para um atento observador, já dava para perceber que o Brasil, e particularmente o Rio de Janeiro, estavam caminhando para uma crise no setor de turismo.

Como se não bastasse, existia o clima de desanimo provocado pela perda da corrida de “Formula Um” com a percepção de que o Rio de Janeiro havia se tornado uma cidade insegura, tanto para seus moradores, como para os turistas, e esta visão estava em toda parte, a começar pelo nosso principal mercado, que é São Paulo.  Nas viagens comerciais para o exterior passávamos mais tempo respondendo perguntas sobre crime e falta de segurança, do que exaltando as belezas naturais e a simpatia e alegria do povo carioca.  Esta percepção de cidade insegura não era totalmente injustificada – longe disso – pois era ocasionada em função da mídia sensacionalista local que gerava repercussão negativa, tanto no resto do Brasil, como no exterior.   Junto com o “trade” turístico fizemos inúmeras tentativas visando cobrar uma cobertura mais equilibrada da questão de segurança pública junto à mídia, mas sem êxito, pois havia uma forte motivação política atrás dessa cobertura negativa.

De qualquer maneira, com eu tinha bons contatos no exterior, comecei a fazer algumas sondagens discretas, visando uma transferência para o exterior.  Justamente nesta altura dos acontecimentos,  recebi um telefonema de uma empresa de “Headhunters” de Londres, perguntando se eu teria interesse em participar de um processo seletivo para o grupo do Orient-Express, que estava negociando a compra do Copacabana Palace, e buscava um diretor para o hotel.  Expliquei que eu estava interessado em possíveis oportunidades fora do Brasil, mas não estava interessado em mudar alguns quarteirões em Copacabana, principalmente quando isso significava sair do melhor hotel da cidade para outro, que embora muito famoso, se encontrava em condições precárias.  De qualquer maneira, depois de muita insistência, e como, coincidentemente, eu  estava de passagem marcada para Inglaterra para a semana seguinte, onde eu iria passar três semanas de ferias com meus três filhos, concordei em marcar um encontro com James Sherwood, o  Fundador e Chairman do grupo Orient-Express, cujos escritórios ficavam em Londres.  Depois de visitar parentes em Londres, aluguei um carro e fomos passear pelo interior de Inglaterra e Escócia, e  dormindo em pequenos hotéis e “Bed & Breakfasts” ao longo do caminho.  Só no penúltimo dia das ferias fui encontrar com Sherwood.  Até então o nome do Sherwood não significava nada para mim, e fui para o escritório dele em Londres totalmente à vontade.  Afinal de contas, eu não estava procurando um emprego, eu estava apenas investigando a possibilidade de encontrar uma possível oportunidade fora do Brasil.  Ao Chegar, percebi logo que Sherwood não era uma pessoa qualquer.  O seu escritório ocupava metade do último andar da Sea Containers House, debruçado sobre o Rio Thames, com uma vista magnífica do “skyline” de Londres.  A própria sala de espera era a mais luxuosa que eu havia visto, com poltronas e sofás confortáveis, e de ótima qualidade.  Depois de poucos minutos de espera fui levado ao escritório de Sherwood.  Conversamos um pouco sobre generalidades, ele perguntou várias coisas sobre Brasil, e deve ter percebido que eu conhecia bem o país.  Ele começou a me contar seus planos para adquirir o Copacabana Palace e realizar uma reforma completa no hotel.  Após ouvi-lo em silêncio disse: “Sr. Sherwood, eu não sei se lhe explicarem direito, mas eu não estou interessado em assumir a direção do Copacabana Palace, estou mais interessado em buscar uma colocação fora do Brasil, daí o meu interesse em conversar com você sobre outras oportunidades que possam existir no grupo Orient-Express”.  Percebi que o Sherwood se surpreendeu com minha colocação, pois passou a me contar sobre seus planos de expansão para o grupo.  Conversamos mais um pouco, e no final ele me disse: “olha, eu agora preciso de você no Brasil, pelo menos por uns três anos. Em dois anos vamos reformar todo o hotel e depois mais um ano para o hotel se consolidar como o melhor da América do Sul.  Até lá eu espero ter adquirido mais uns trinta hotéis e desde que você cumpra bem a tarefa de reconduzir o Copacabana Palace ao posto do melhor hotel do Brasil,  você poderá escolher para onde você quer ir”.  Bem, não deixava de ser uma proposta interessante e respondi que pensaria muito na mesma, caso ele fechasse mesmo a compra do Copa.  E com isso me despedi dele, e voltei para o Brasil.  Alguns  dias depois recebi uma ligação do “Headhunter” de Londres - “Olha, o Sr. Sherwood gostou muito da conversa com  você, e acha você o candidato ideal para o cargo”.  Na semana que vem o Presidente do grupo estará viajando para o Brasil e ele irá te procurar para tentar fechar a sua contratação”.  “Se quiser, o emprego é seu,  acrescentou”. feliz por vislumbrar receber um “fee” pela minha contratação, sem que ele sequer ele houvesse me conhecido pessoalmente.

Encontrei-me então com o Presidente do Grupo Orient-Express, um hoteleiro suíço com uma boa experiência, e conversamos sobre as condições da minha possível contratação e sobre a tarefa que eu teria pela frente caso aceitasse a proposta.   Fiz algumas perguntas sobre a organização, e principalmente, sobre a estrutura de administração que seria montada no Brasil, já que o Grupo Orient-Express estava adquirindo a Companhia Hotéis Palace e necessitaria ter uma diretoria constituída no Brasil.  Eu já tinha lido nos jornais que o Sherwood pretendia  nomear seu amigo Embaixador Mario Gibson Barbosa como Presidente da empresa, e este havia convidado o ex-ministro Pratini de Morais para assumir a vice-presidência. Como não existia um Conselho de Administração, apenas uma diretoria executiva, a possibilidade de surgir conflitos na administração dia a dia claramente existia.  Deixei claro que eu somente aceitaria  a proposta caso eu reportasse diretamente a Presidência em Londres, sem estar subordinado a uma diretoria local.  Impus esta condição, não em desrespeito ao Gibson Barbosa ou Pratini de Morais, duas pessoas que eu já admirava, e passaria a admirar mais ainda apos conhecê-los melhor, mas por saber que a tarefa difícil que eu teria pela frente somente poderia ser  bem-sucedida caso eu tivesse carta branca para agir.  O Presidente concordou com este pedido, e solicitei alguns dias para pensar na proposta.  Alguns dias depois, já no começo de setembro, li nos jornais que Sherwood havia fechado a compra do Copa, e que estaria vindo ao Brasil para assumir o hotel.  Foi marcada uma entrevista coletiva com a imprensa para anunciar a compra, e a equipe do Grupo Orient-Express estava ansiosa para anunciar meu nome como o novo gerente-geral do hotel.  Entretanto, eu ainda não havia decidido, embora o Presidente de Orient-Express tivesse concordado com meu pedido de se reportar diretamente a Londres, eu ainda não estava convencido de  que o próprio Sherwood entendia a extensão do meu pedido.  Solicitei então um novo encontro com o próprio Sherwood, e como não queria visto entrando pela porta do Copacabana Palace, solicitei que o encontro fosse no Bar do Hotel Ouro Verde.  A reunião então aconteceu e a solução encontrada foi de modificar os estatutos da Companhia Hotéis Palace nomeando-me como Diretor Superintendente,  e ainda acumulando, estatutariamente, os cargos de diretor financeiro, diretor administrativo, e diretor comercial.  Resolvido esta questão, tomei a decisão mais importante da minha vida profissional, apertei a mão do Sherwood e aceitei o convite para dirigir o Copacabana Palace.  Assumi o cargo no dia primeiro de outubro de 1989.  Para os antigos colaboradores do hotel seria mais um gerente geral em uma longa linha de bons profissionais, mas nenhum dos meus antecessores havia desfrutado da metade do poder que eu agora tinha em minhas mãos.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Ricos e Famosos

As vantagens de estar a frente de um grande e bem-sucedido  hotel cinco estrelas, como era o Rio Palace, eram muitas.  Alem de permitir uma realizacao profissional,  ainda servia para me projetar no cenário hoteleiro, tanto no Brasil como no exterior, isto devido a boa imagem que o hotel desfrutava na organizacao do “Leading Hotels of the World”.  Alem disso, “estar no lugar certo na hora certa” também permitia encontros com celebridades mundiais, desde Chefes de Estado e  membros da realeza europeia, ate astros consagrados de Hollywood.  Me recordo de um jantar no Restaurante Pre-Catalan com o lendário ator americano James Stewart, que apesar de toda a sua fama, demonstrou uma grande simpatia com todos.  Outro memorável encontro foi com Jane Fonda, a atriz, e ativista politica americana, que esteve no Brasil promovendo seu mais recente filme.   Acontece que eu acompanhava Jane Fonda desde que eu havia assistido a sua estreia no cinema no filme “Tall Story” em 1960, quando ela desempenhou um papel de “cheerleader”, contracenando com o ator Anthony Hopkins.  A maioria das pessoas só conheciam Fonda desde a sua participacao no filme Barbarella, em 1968, e sua posicao contra a guerra de Vietnam na década de ’70, portanto quando eu disse a ela, durante o cocktail promovido pela distribuidora,  que eu me lembrava dela em “Tall Story”, ganhei mais alguns minutos de atencao da estrela, para o desespero dos muitos outros que tambem disputavam a sua atencao.

Sem duvida, entretanto, a mais dramática visita foi da Princesa Anne,  de Grã-Bretanha, em 1987.  A visita havia transcorrida tranquilamente mas no dia de sua partida, a Policia Federal avisou a comitiva que havia surgida a informacao que poderia haver uma tentativa de sequestro da Princesa por parte da organizacao criminosa Comando Vermelho, que utilizaria a Princesa como refém na troca da libertacao de um dos seus fundadores, o temido bandido conhecido como Escadinha.  O Escadinha já havia sido protagonista de um uma fuga espetacular, de helicóptero, do presidio de segurança máxima na Ilha Grande, e a Policia Federal avisou que a ameaça deveria ser levado  a serio.  Tomou-se então uma serie de providências.  Primeiro, buscou um carro blindado,  mas o carro blindado do Embaixador se encontrava em Brasília, e não chegaria a tempo.  Descobriu então que o Cônsul Geral americano no Rio dispunha de um carro blindado, e este concordou em ceder-lo para a comitiva britânica.  Decidiu ainda que o automóvel Jaguar, que ate então tinha servido a Princesa, seria mantido no comboio oficial, mas com uma “voluntaria” inglesa da Embaixada fazendo a papel da Princesa, inclusive usando um grande chapéu que praticamente encobria o seu rosto.  Outa decisão tomada foi de não sair pela porta principal do hotel, e sim desviar na ultima hora para o acesso que o hotel  tinha para o Shopping Casino Atlântico e embarcar no carro blindado na Av. N.S. de Copacabana.  O trafego de carros pela Av N.S.de Copacabana seria interrompido, e a Princesa sairia pela conta-mão, ate atingir a rua Francisco Otaviano, e em seguida a Avenida Atlântica.  Foi tudo cronometrado para que o fechamento da rua, e a chegado do carro blindado aconteceria na exata hora em que a Princesa chegasse na calcada da Av.N.S. de Copacabana.  O meu papel, neste plano, era de acompanhar a Princesa, desde a sua saída da suite Presidencial, ate seu embarque no automóvel.  Tudo correu bem ate chegamos na calcada, e nada de automóvel!  Ficamos parados uns 30 segundos - que parecia uma eternidade - ate finalmente o automóvel virar a esquina, e estacionar defronte da Princesa.  Na sua ansiá de chegar, entretanto, o motorista tinha parado o carro defronte de um fradinho, e não dava para abrir a porta do carro.  O jeito foi da Princesa andar no meio da rua e acessar o carro pelo outro lado.  O olhar que ela dirigiu ao seu detetive particular nesta hora foi inesquecível.  Enquanto isso acontecia, os poucos transeuntes desavisados que andavam pela rua eram cacadas por policiais com cacetetes e corriam por todos os lados sem entender nada, na maior confusão.

No final, tudo deu certo.  Não houve tentativa de sequestro, e todos se salvaram, mas se a cena da partida tivesse sido filmada, pareceria mais com um episodio do “Keystone Cops” do que uma operacao de contra-sequestro, organizado pelo “Scotland Yard".