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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

De Maria Lenk a Princesa Diana

Com a questão da taxa de serviço resolvida, e com a reforma administrativa, progredindo  bem, era a hora de voltar as atencoes para a reforma e renovacao das instalacoes do hotel.  Logo apos adquirir o hotel fizemos alguns pequenos investimentos no Anexo, pois a ideia era de fechar o prédio principal para as obras de reforma e funcionar durante algum tempo apenas com o Anexo.  Foi feito também uma nova pintura do prédio principal – muito mais bonito que o existente – e iluminamos a fachada  do hotel.  O resultado foi muito bem recebido pelos cariocas, embora nos trouxe muitos dores de cabeça com o pessoal do patrimônio histórico.  Outra reforma logo iniciada foi da piscina, que acabou eliminando a piscina de crianças e uma “ilha” que existia no meio da piscina principal.  Antes de iniciar as obras da piscina foi preciso suspender as aulas de natacao que ocupava diariamente a piscina das 8 as 10 horas da manha.  Essas aulas existiam há décadas, e inicialmente eram  administradas pela famosa nadadora olímpica brasileira, Maria Lenk.  Boa parte da sociedade carioca que eram jovens nas décadas de `50 e `60 aprendeu a nadar na piscina do Copa, com as aulas de Maria Lenk, mas em 1990 já fazia muitos anos que as aulas eram adminstradas por um outro professor.  Mesmo assim, a suspensão das aulas não foi bem recebida e recebi um abaixo-assinado com centenas de assinaturas pedindo pela manutencao das aulas de natacao.  As instrucoes do Sherwood entretanto foram claros.  As aulas seriam imediamente suspensas e não seriam retomadas apos a reforma, e ponto final.  Isso não evitou que o professor de natacao entrasse  na justiça trabalhista alegando vinculo empregaticio  com o hotel e pedindo uma gorda indenizacao, e isso apesar que  o hotel nada cobrava pela cessão da piscina e todo o lucro proveniente das aulas era dele.  Felizmente, a justiça deu ganho de causa no processo para o hotel.
Inicialmente, o Sherwood pediu para Andrea Betts, esposa do Johnny Betts, o corretor que havia intermediado a compra do hotel, para desenvolver o projeto de reforma, mas depois decidiu envolver seu decorador favorito, o francês Gerard Gallet, que havia feito toda a decoracao do trem Orient-Express, que ficou incumbido de desenvolver o “master plan” da reforma, com Andrea Betts funcionando com seu assistente no Brasil.  No final de 1990 o projeto já estava pronto, mas  faltou um componente vital – o financiamento da reforma.  O Sherwood havia imaginado que conseguiria obter o financiamento para a reforma no exterior, mas por um serie de motivos adversos, isso não foi possível, e o tao sonhado reforma estava difícil de sair.  Um outro problema foi que o custo estimado da reforma, de acordo com o projeto do Gallet, foi muito superior aos US$ 10 milhões estimados por Sherwood.  Esse fato criou muitas discussões com os responsáveis pela obra, com substituicoes de vários “Project Managers”, mas o grande problema, a falta de dinheiro para iniciar a obra continuava.
Enquanto isso, o hotel continuava a funcionar normalmente, embora a crise que atingia toda a hotelaria carioca prejudicava cada vez mais os resultados do hotel.  Mesmo assim, em abril de 1991 o hotel viveu novamente momentos de gloria com a hospedagem do Príncipe Charles e Princesa Diana, ainda casados, porem visivelmente vivendo momentos difíceis.  Antes da chegada do casal real, o pessoal da embaixada britânica e havia demonstrado muito preocupacao com a acao dos “paparazzi” que acompanhavam a Princesa 24 horas por dia, e o hotel tomou várias providências para dificultar a presença deles no hotel.  Não podemos evitar entretanto que alguns fotógrafos mais espertos alugassem um apartamento no prédio vizinho “Chopin”, e dali conseguiram fotos da  Princesa nadando na piscina do Copa,  que fizeram sensacao nos tablóides ingleses.  Durante toda a estadia a Princesa Diana parecia bastante tensa e intranquila, mas no ultimo dia, apos Charles viajar sozinho para um compromisso em Belém ela relaxou, e apos uma ida ao Teatro Municipal para assistir uma apresentacao de ballet, jantou com um pequeno grupo descontraído no restaurante Bife de Ouro.  Apos o jantar, a Princesa ainda pediu para desligar as luzes da piscina de as 2 horas da manha deu algumas braçadas na piscina, sem que qualquer “paparazzi” registrasse a cena.
No dia seguinte, ao partir do hotel, estava alegre e descontraída, e deu um verdadeiro show de simpatia para as centenas de admiradores aglomerados em frente ao hotel para assistir sua partida.



sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A Nova Taxa de Servico

Quando o grupo Orient-Express comprou o Copacabana Palace em 1989, todos sabiam que o hotel se encontrava em mas condicoes de conservacao, fruto da falta de investimento ao longo de muitos anos.  Muitos também sabiam de existência de um grande passivo trabalhista devido a existência no quadro do hotel de aproximadamente 200 funcionários antigos, que não eram optantes pelo Fundo de Garantia de Serviço – FGTS, e que haviam adquirida “estabilidade” no emprego pela lei antiga.  Isto significava que que a demissão de qualquer funcionário desse grupo resultava num pagamento de uma indenizacao adicional de dois salários mensais para cada ano trabalhado.  Como todo esse grupo tinha pelo menos 30 anos de serviço, e muitos mais de 40 anos, as indenizacoes devidas eram altíssimas.  Pior do que isso, entretanto, era o sistema de apuracão e distribuicao da taxa de serviço, que já expliquei em detalhes no capitulo 50 desse relato,  que resultava no hotel  ter que distribuir 25% da sua receita bruta  de hospedagem  entre o grupo de funcionários que participava do sistema da taxa de serviço   – aproximadamente 40% do efetivo total do hotel  - i tudo isso antes de começar a pagar os salários propriamante ditos!  Esse sistema era muito ruim por vários motivos.  Primeiro criava duas classes de funcionários, os privilegiados que desfrutavam da distribuicao da taxa de serviço, e os demais, que nada ganhavam, criando uma desequilíbrio interna muito grande, e grande motivo de insatisfacao entre o grupo de funcionários que não participavam na distribuicao da taxa de serviço.  Segundo, em  funcao dos  valores altíssimos subtraídos da receita do hotel, e repassados  diretamente  para a folha de pagamento, sem que houvesse  qualquer retencao de valores para fazer frente aos encargos sociais, resultava num custo de pessoal absolutamente sufocante e que inviabilizava  a sobrevivencia econômica e financeira do hotel.  Ficou muito claro para nos que antes de começar as reformas das instalacoes do hotel, teríamos que modificar completamente a forma de apuracão e distribuicao da taxa de serviço. 
Depois de muitos discussões com o Sindicato dos Empregados, que estava interessado em resolver a insatisfacao que muitos empregados tinham com o sistema vigente, foi possível elaborar uma nova proposta de apuracão e distribuicao da taxa de serviço, similar ao sistema que prevalece nos demais hotéis cariocas, e no  qual participariam todos os empregados do hotel.  Foi ainda prometido, que aprovada a nova proposta, o hotel promoveria uma demissão voluntaria com o pagamento de todos os direitos trabalhistas para os empregados que não desejavam participar do novo sistema.  Apos uma ampla debate, e vários reuniões com os empregados  o Sindicato dos Empregados, supervisionado pelo Ministério do Trabalho,  organizou uma assembleia que durou o dia inteiro em que cada funcionário votava SIM ou NÃO para a implementacao da nova proposta.  No fim do dia, apurado os votos, verificou que 78% dos funcionários haviam votado, e desses, 82% votaram a favor da nova proposta, que acabou homologado pelo Sindicato e pelo Ministério de Trabalho.  Embora o custo total das demissões dos empregados “estaveis” que na sua quase totalidade optaram pelo processo de demissão voluntario tenha se aproximado a dois milhões de dólares, e embora - não obstante termos pagos 100% dos direitos trabalhistas – ainda enfrentamos mais de uma centena de reclamacoes na Justiça de Trabalho, sabíamos que o resultado da eleicao foi  fundamental para construir as bases para um futuro melhor, e crucial na caminhada de construir o "novo" Copacabana Palace.