Em meados de 2009 conseguimos a luz verde da diretoria e de alguns
membros do Board da Orient-Express para prosseguir nos estudos de viabilidade para
o que seria a ultima etapa das reformas do Copacabana Palace. Estas obras eram
essenciais para preparar o hotel para a concorrência que viria, e se tornaram
mais importantes ainda em outubro de 2009 quando a cidade recebeu a indicação
para sediar os jogos olímpicos de 2016.
Finalmente, as obras representariam uma marca importante por finalmente
cumprir o objetivo determinado por James Sherwood em 1989, de reformar completamente
o hotel e de torna-lo o melhor hotel da América do Sul. Embora tínhamos um sinal verde, sabíamos que
ainda teríamos muito trabalho pela
frente antes que as obras pudessem começar.
Primeiro tínhamos que desenvolver o projeto arquitetônico e conseguir as
aprovações para as obras na Prefeitura e junto aos órgãos de Patrimônio
Histórico. E não se tratava de uma obra
de reforma qualquer, pois o projeto previa a virtual reconstrução de dois
andares, totalizando 55 apartamentos , por um custo por apartamento estimado em
US$150 mil. Além disso, o projeto previa
intervenções de menor porte em mais 60 apartamentos, e a completa reforma de
cada uma dos sete famosas suítes de cobertura.
No caso do Patrimônio Histórico, o processo de aprovação foi complexo
pois nosso projeto previa a ampliação do espaço do Lobby do hotel em 60%,
principalmente em função da nossa vontade, e da necessidade legal, de cumprimos
com as leis de acessibilidade para pessoas portadores de deficiências
existentes no âmbito federal, estadual, e municipal. Em se tratando de um prédio construído em
1923, muito antes de existir qualquer preocupação neste sentido, e considerando
que o prédio está tombado pelo patrimônio histórico, o desafio foi grande. Felizmente, contamos com a boa vontade e com
a orientação dos técnicos do patrimônio histórico, e após alguns ajustes ao
projeto foi possível encontrar soluções que atendiam a todos. Paralelo a este trabalho tivemos que elaborar
um detalhado “business plan” que permitiria a aprovação formal do projeto por
parte do Board, pois afinal de contas tratava-se de um investimento de mais de
US$20 milhões. Antigamente, bastava que
o James Sherwood estivesse de acordo com as obras e ele tratava de obter a
aprovação formal junto ao Board, mas sem Sherwood, o processo de aprovação foi
bem mais complexo, e demorado. Inicialmente havíamos planejado realizar as
obras durante a baixa estação de 2011, mas, em meados de 2010, o Board decidiu
adiar as obras por mais um ano. Esta
decisão foi facilitada pelo atraso já constatado na reforma do Hotel Glória e o Board
preferiu aguardar mais um ano de bons resultados do Copa enquanto os
demais hotéis do grupo ainda se recuperava da crise financeira mundial de
2008. De fato, tanto o ano de 2010 como de
2011 foram excelentes para o Copa, com o hotel estabelecendo novos recordes de
lucratividade a cada ano que passava, além de consolidar a sua posição como
sendo o hotel mais lucrativo da companhia.
Quando tudo parecia andar bem para que as obras acontecessem em 2012,
fomos surpreendidos, em julho de 2011, pela súbita renuncia, por motivos
pessoais, do CEO do Orient-Express, Paul White, justamente a pessoa que mais
havia apoiada nosso projeto, desde o início.
Esta mudança inesperada trouxe novos desafios, entre os quais a
necessidade de defendermos mais uma vez a realização dos investimentos
pretendidos. O problema era dificultado porque com as constantes mudanças na
composição do Board do Orient-Express, poucos membros tinham um conhecimento
profundo da realidade do Copacabana Palace, nem do mercado hoteleiro do Rio de
Janeiro, e nem do Brasil. Sabiam,
entretanto, que o Copacabana Palace era o hotel mais lucrativo da companhia, e
sabiam do potencial futuro do hotel com o crescimento de demanda esperada
antes, durante, e após os grandes eventos esportivos programados para
acontecer. E sabiam também que o
Copacabana Palace tinha um “track record” invejável no cumprimento do retorno
nos investimentos realizados ao longo dos anos. Para a execução dessa fase das
reformas, seria necessário fechar o prédio principal do hotel por um período de
quatro meses, e foi um grande desafio demonstrar para o Board, e seu comitê de
investimentos, que o fechamento do prédio principal do hotel durante quatro
meses (que corresponderiam a baixa estação entre maio e setembro) não teria um
efeito catastrófico nos resultados financeiros do ano de 2012 como um todo. Outra dificuldade era demonstrar para os
membros do Board, muitos dos quais nem conheciam o Brasil, que os preços cotados
para a reforma eram compatíveis com a realidade brasileira, já que,
principalmente para os americanos, os preços pareciam ser astronômicos, como
eram mesmo, e ainda mais com o dólar cotado a R$1,60. Felizmente,
todos os obstáculos foram superados, e as obras foram confirmadas para
acontecer em 2012. Havíamos programado
para iniciar as obras no início de maio, assim que terminasse a realização da
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, mais conhecida
como o Rio+20. Infelizmente, este evento
foi adiada por duas vezes, sendo finalmente realizado entre 13 e 22 de junho de
2012. Como não dava para fechar o hotel
na véspera da realização de um evento que contava com a presença de chefes de
estados de 190 países, mais de vinte dos quais hospedados no Copa, tivemos que
adiar o início das obras para o final de junho.
Mesmo assim, as obras foram todas terminadas até o final de novembro e
no 12 de dezembro de 2012 o prédio principal foi oficialmente reaberta com uma
grande festa para mais de 1500 convidados, entre os quais, eu e minha esposa,
Nara. É que em março de 2012, eu havia
comunicado ao cúpula da Orient-Express da minha decisão de deixar a empresa
para desfrutar da minha aposentadoria.
Para mim, a conclusão das obras de reforma representava o fim de um
ciclo, e a conclusão de um desafio que havia levado 23 anos para realizar. Dali em diante, caberia a outros responder
pelos destinos do Copacabana Palace.
Felizmente, eu havia preparado a minha sucessão cuidadosamente, como
contarei num futuro capítulo.
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