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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A Ultima Etapa

Em meados de 2009 conseguimos a luz verde da diretoria e de alguns membros do Board da Orient-Express para prosseguir nos estudos de viabilidade para o que seria a ultima etapa das reformas do Copacabana Palace. Estas obras eram essenciais para preparar o hotel para a concorrência que viria, e se tornaram mais importantes ainda em outubro de 2009 quando a cidade recebeu a indicação para sediar os jogos olímpicos de 2016.  Finalmente, as obras representariam uma marca importante por finalmente cumprir o objetivo determinado por James Sherwood em 1989, de reformar completamente o hotel e de torna-lo o melhor hotel da América do Sul.  Embora tínhamos um sinal verde, sabíamos que ainda  teríamos muito trabalho pela frente antes que as obras pudessem começar.  Primeiro tínhamos que desenvolver o projeto arquitetônico e conseguir as aprovações para as obras na Prefeitura e junto aos órgãos de Patrimônio Histórico.  E não se tratava de uma obra de reforma qualquer, pois o projeto previa a virtual reconstrução de dois andares, totalizando 55 apartamentos , por um custo por apartamento estimado em US$150 mil.  Além disso, o projeto previa intervenções de menor porte em mais 60 apartamentos, e a completa reforma de cada uma dos sete famosas suítes de cobertura.  No caso do Patrimônio Histórico, o processo de aprovação foi complexo pois nosso projeto previa a ampliação do espaço do Lobby do hotel em 60%, principalmente em função da nossa vontade, e da necessidade legal, de cumprimos com as leis de acessibilidade para pessoas portadores de deficiências existentes no âmbito federal, estadual, e municipal.  Em se tratando de um prédio construído em 1923, muito antes de existir qualquer preocupação neste sentido, e considerando que o prédio está tombado pelo patrimônio histórico, o desafio foi grande.  Felizmente, contamos com a boa vontade e com a orientação dos técnicos do patrimônio histórico, e após alguns ajustes ao projeto foi possível encontrar soluções que atendiam a todos.  Paralelo a este trabalho tivemos que elaborar um detalhado “business plan” que permitiria a aprovação formal do projeto por parte do Board, pois afinal de contas tratava-se de um investimento de mais de US$20 milhões.  Antigamente, bastava que o James Sherwood estivesse de acordo com as obras e ele tratava de obter a aprovação formal junto ao Board, mas sem Sherwood, o processo de aprovação foi bem mais complexo, e demorado. Inicialmente havíamos planejado realizar as obras durante a baixa estação de 2011, mas, em meados de 2010, o Board decidiu adiar as obras por mais um ano.  Esta decisão foi facilitada pelo atraso já constatado na reforma do Hotel Glória  e o Board  preferiu aguardar mais um ano de bons resultados do Copa enquanto os demais hotéis do grupo ainda se recuperava da crise financeira mundial de 2008.  De fato, tanto o ano de 2010 como de 2011 foram excelentes para o Copa, com o hotel estabelecendo novos recordes de lucratividade a cada ano que passava, além de consolidar a sua posição como sendo o hotel mais lucrativo da companhia.   

Quando tudo parecia andar bem para que as obras acontecessem em 2012, fomos surpreendidos, em julho de 2011, pela súbita renuncia, por motivos pessoais, do CEO do Orient-Express, Paul White, justamente a pessoa que mais havia apoiada nosso projeto, desde o início.  Esta mudança inesperada trouxe novos desafios, entre os quais a necessidade de defendermos mais uma vez a realização dos investimentos pretendidos. O problema era dificultado porque com as constantes mudanças na composição do Board do Orient-Express, poucos membros tinham um conhecimento profundo da realidade do Copacabana Palace, nem do mercado hoteleiro do Rio de Janeiro, e nem do Brasil.  Sabiam, entretanto, que o Copacabana Palace era o hotel mais lucrativo da companhia, e sabiam do potencial futuro do hotel com o crescimento de demanda esperada antes, durante, e após os grandes eventos esportivos programados para acontecer.  E sabiam também que o Copacabana Palace tinha um “track record” invejável no cumprimento do retorno nos investimentos realizados ao longo dos anos. Para a execução dessa fase das reformas, seria necessário fechar o prédio principal do hotel por um período de quatro meses, e foi um grande desafio demonstrar para o Board, e seu comitê de investimentos, que o fechamento do prédio principal do hotel durante quatro meses (que corresponderiam a baixa estação entre maio e setembro) não teria um efeito catastrófico nos resultados financeiros do ano de 2012 como um todo.  Outra dificuldade era demonstrar para os membros do Board, muitos dos quais nem conheciam o Brasil, que os preços cotados para a reforma eram compatíveis com a realidade brasileira, já que, principalmente para os americanos, os preços pareciam ser astronômicos, como eram mesmo, e ainda mais com o dólar cotado a R$1,60.    Felizmente, todos os obstáculos foram superados, e as obras foram confirmadas para acontecer em 2012.  Havíamos programado para iniciar as obras no início de maio, assim que terminasse a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, mais conhecida como o Rio+20.  Infelizmente, este evento foi adiada por duas vezes, sendo finalmente realizado entre 13 e 22 de junho de 2012.  Como não dava para fechar o hotel na véspera da realização de um evento que contava com a presença de chefes de estados de 190 países, mais de vinte dos quais hospedados no Copa, tivemos que adiar o início das obras para o final de junho.  Mesmo assim, as obras foram todas terminadas até o final de novembro e no 12 de dezembro de 2012 o prédio principal foi oficialmente reaberta com uma grande festa para mais de 1500 convidados, entre os quais, eu e minha esposa, Nara.  É que em março de 2012, eu havia comunicado ao cúpula da Orient-Express da minha decisão de deixar a empresa para desfrutar da minha aposentadoria.  Para mim, a conclusão das obras de reforma representava o fim de um ciclo, e a conclusão de um desafio que havia levado 23 anos para realizar.  Dali em diante, caberia a outros responder pelos destinos do Copacabana Palace.  Felizmente, eu havia preparado a minha sucessão cuidadosamente, como contarei num futuro capítulo.

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