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terça-feira, 10 de junho de 2014

Hotel das Cataratas



Uma das estratégias do James Sherwood para fazer crescer o grupo Orient-Express era de adquirir um hotel chave em algum país, e depois adquirir outros para que o grupo adquirisse uma presença regional marcante.  Ele adotou esta filosofia na Italia, iniciando com o Hotel Cipriani em Veneza;  na Africa do Sul, com o Hotel Mount Nelson na Cidade do Cabo;  e no Peru, com o Hotel em Machu Picchu.  No Brasil, após a aquisição do Copacabana Palace, ele identificou o Hotel das Cataratas em Foz do Iguaçu como sendo o hotel ideal para expandir a presença do Orient-Express no Brasil.  O hotel tem uma localização privilegiada dentro do Parque Nacional, defronte das famosas cataratas do rio Iguaçu e por ser o único hotel dentro do Parque Nacional,  permite que seus hóspedes tem acesso exclusivo às cataratas antes e depois que o parque abre e fecha para o público. O Sherwood começou a se interessar pelo hotel em 1993, mas logo descobriu que o hotel pertence ao Governo Federal, e por estar localizado dentro do Parque Nacional, não poderá ser vendido.  Na época, o hotel era administrado pela rede Tropical, que pertencia a Varig, a companhia aérea de grande prestigio, que administrava o hotel sob um contrato de concessão.  Inicialmente, Sherwood tentou negociar com Tropical para que eles cedessem a concessão do Hotel das Cataratas para o grupo Orient-Express, e quando esta tentativa não logrou êxito, passou a negociar com Varig a compra de toda a rede de Tropical, que possuía hotéis em Manaus, Santarém, João Pessoa, Salvador, e São Paulo, além do hotel de Foz do Iguaçu.  A negociação teve várias complicações, a começar pelo fato que apenas os hotéis de Manaus e Santarém pertenciam de fato à Tropical, sendo que os outros eram arrendados ou alugados de terceiros.  No final, não foi possível chegar a um acordo com a Varig, e o negócio não foi para frente.  O episódio ainda me rendeu uma experiência interessante pois em dezembro de 1994 fui destacado pelo grupo  Orient-Express, junto com um jovem executivo do grupo sediado em Londres, para realizar um trabalho de “due diligence” em todos os hotéis do grupo Tropical, começando por Manaus, e terminando em São Paulo, numa verdadeira maratona pelo Brasil.  Se para mim, que já conhecia bem o norte e nordeste do Brasil, a experiência foi super interessante, imagina o que foi para o jovem executivo inglês.  Muitos anos mais tarde, este mesmo jovem inglês foi nomeado CEO do grupo Orient-Express, e se habituou a realizar viagens exóticos pelo mundo todo, mas ele sempre me confessava que nada se comparava com a viagem pelo Brasil em dezembro de 1994.
Com o fracasso das negociações com Varig/Tropical, Sherwood decidiu aguardar a próxima licitação para tentar arrendar o hotel, que estava previsto para ocorrer em 1995, mas foi surpreendido com a notícia que o governo havia renovada a concessão com a Tropical sem promover uma nova licitação.  Na verdade, desde o inicio, a concessão vinha sendo renovada há cada dez anos sem que tivesse havida qualquer licitação pública, com o argumento que a principal companhia aérea que atendia Foz do Iguaçu  (no caso, a Varig) estava mais bem posicionada para promover o hotel e “vender” o destino.  É também verdade, que a Varig/Tropical havia investida na ampliação do hotel, construindo dois anexos ao prédio original, a primeira em 1973 e a segunda em 1982.  Mas o Sherwood não foi o sucesso que foi sem ter uma grande dose de determinação, e dez anos depois, já em 2005, lá estava ele de novo indagando ao governo quando é que teria uma nova licitação para o Hotel das Cataratas.  Em 2005, a Varig já não desfrutava do mesmo prestígio de antes, e o próprio Hotel das Cataratas estava exibindo claros sinais de decadência em função do pouco investimento na renovação  do hotel.  Consequentemente, o governo resolveu realizar uma licitação internacional, com o objetivo de entregar o Hotel das Cataratas a um grupo que teria condições de realizar os investimentos necessários para fazer do Hotel das Cataratas uma verdadeira referencia de hotelaria de qualidade e de luxo, tanto no Brasil como no exterior.  Após uma árdua disputa com o grupo Tropical, o grupo Orient-Express foi declarada vencedora da licitação, e finalmente, em primeiro de outubro de 2007, assumiu a gestão do Hotel das Cataratas.  Lamentavelmente, o homem que mais lutou para que este dia chegasse não estava lá para celebrar.  Três meses antes, em junho de 2007, o Board do Orient-Express havia nomeado um novo Chairman, e o James Sherwood passou a ter o titulo de "Diretor e Fundador", mas sem qualquer responsabilidade executiva.  Não obstante estas mudanças na direção da companhia, e apesar das dificuldades financeiras oriundas da crise financeira mundial de 2008 e 2009, o grupo Orient-Express realizou vultosas obras de reforma nos três anos seguintes após ter assumida a gestão da propriedade, e no final de 2010 pode reinaugurar, com muito orgulho, um dos mais belos hotéis do Brasil, e do mundo. De lá para cá, sob a batuta do seu competente diretor, Celso Valle, que está no posto desde 2007, e com a ajuda de sua valiosa equipe, o hotel tem acumulado diversos prêmios nacionais e internacionais, e é reconhecido pelo site da TripAdvisor como um dos hotéis de maior satisfação dos seus hóspedes em todo o continente sul-americano, e é um dos orgulhos do grupo Orient-Express.


Um comentário:

  1. Nada se conquista na vida se não houver perseverança, e esta é a marca registrada de James Sherwood.

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