Uma das estratégias do James Sherwood para fazer crescer o grupo
Orient-Express era de adquirir um hotel chave em algum país, e depois adquirir
outros para que o grupo adquirisse uma presença regional marcante. Ele adotou esta filosofia na Italia,
iniciando com o Hotel Cipriani em Veneza; na Africa do Sul, com o Hotel Mount
Nelson na Cidade do Cabo; e no Peru, com o Hotel em Machu Picchu. No Brasil, após a aquisição do Copacabana
Palace, ele identificou o Hotel das Cataratas em Foz do Iguaçu como sendo o
hotel ideal para expandir a presença do Orient-Express no Brasil. O hotel tem uma localização privilegiada
dentro do Parque Nacional, defronte das famosas cataratas do rio Iguaçu e por
ser o único hotel dentro do Parque Nacional, permite que seus hóspedes tem acesso exclusivo
às cataratas antes e depois que o parque abre e fecha para o público. O
Sherwood começou a se interessar pelo hotel em 1993, mas logo descobriu que o
hotel pertence ao Governo Federal, e por estar localizado dentro do Parque
Nacional, não poderá ser vendido. Na
época, o hotel era administrado pela rede Tropical, que pertencia a Varig, a
companhia aérea de grande prestigio, que administrava o hotel sob um contrato
de concessão. Inicialmente, Sherwood
tentou negociar com Tropical para que eles cedessem a concessão do Hotel das
Cataratas para o grupo Orient-Express, e quando esta tentativa não logrou
êxito, passou a negociar com Varig a compra de toda a rede de Tropical, que
possuía hotéis em Manaus, Santarém, João Pessoa, Salvador, e São Paulo, além do
hotel de Foz do Iguaçu. A negociação
teve várias complicações, a começar pelo fato que apenas os hotéis de Manaus e
Santarém pertenciam de fato à Tropical, sendo que os outros eram arrendados ou
alugados de terceiros. No final, não foi
possível chegar a um acordo com a Varig, e o negócio não foi para frente. O episódio ainda me rendeu uma experiência
interessante pois em dezembro de 1994 fui destacado pelo grupo Orient-Express, junto com um jovem executivo
do grupo sediado em Londres, para realizar um trabalho de “due diligence” em
todos os hotéis do grupo Tropical, começando por Manaus, e terminando em São
Paulo, numa verdadeira maratona pelo Brasil.
Se para mim, que já conhecia bem o norte e nordeste do Brasil, a
experiência foi super interessante, imagina o que foi para o jovem executivo
inglês. Muitos anos mais tarde, este
mesmo jovem inglês foi nomeado CEO do grupo Orient-Express, e se habituou a
realizar viagens exóticos pelo mundo todo, mas ele sempre me confessava que nada
se comparava com a viagem pelo Brasil em dezembro de 1994.
Com o fracasso das negociações com Varig/Tropical, Sherwood decidiu
aguardar a próxima licitação para tentar arrendar o hotel, que estava previsto
para ocorrer em 1995, mas foi surpreendido com a notícia que o governo havia
renovada a concessão com a Tropical sem promover uma nova licitação. Na verdade, desde o inicio, a concessão vinha
sendo renovada há cada dez anos sem que tivesse havida qualquer licitação
pública, com o argumento que a principal companhia aérea que atendia Foz do
Iguaçu (no caso, a Varig) estava mais
bem posicionada para promover o hotel e “vender” o destino. É também verdade, que a Varig/Tropical havia
investida na ampliação do hotel, construindo dois anexos ao prédio original, a
primeira em 1973 e a segunda em 1982.
Mas o Sherwood não foi o sucesso que foi sem ter uma grande dose de
determinação, e dez anos depois, já em 2005, lá estava ele de novo indagando ao
governo quando é que teria uma nova licitação para o Hotel das Cataratas. Em 2005, a Varig já não desfrutava do mesmo
prestígio de antes, e o próprio Hotel das Cataratas estava exibindo claros
sinais de decadência em função do pouco investimento na renovação do hotel.
Consequentemente, o governo resolveu realizar uma licitação
internacional, com o objetivo de entregar o Hotel das Cataratas a um grupo que
teria condições de realizar os investimentos necessários para fazer do Hotel
das Cataratas uma verdadeira referencia de hotelaria de qualidade e de luxo, tanto no
Brasil como no exterior. Após uma árdua
disputa com o grupo Tropical, o grupo Orient-Express foi declarada vencedora da
licitação, e finalmente, em primeiro de outubro de 2007, assumiu a gestão
do Hotel das Cataratas. Lamentavelmente, o homem que mais lutou para que este dia chegasse não estava lá para celebrar. Três meses antes, em junho de 2007, o Board do Orient-Express havia nomeado um novo Chairman, e o James Sherwood passou a ter o titulo de "Diretor e Fundador", mas sem qualquer responsabilidade executiva. Não obstante estas mudanças na direção da companhia, e apesar das
dificuldades financeiras oriundas da crise financeira mundial de 2008 e 2009, o
grupo Orient-Express realizou vultosas obras de reforma nos três anos seguintes após ter assumida a gestão da propriedade, e no final de 2010 pode reinaugurar,
com muito orgulho, um dos mais belos hotéis do Brasil, e do mundo. De lá para
cá, sob a batuta do seu competente diretor, Celso Valle, que está no posto
desde 2007, e com a ajuda de sua valiosa equipe, o hotel tem acumulado diversos
prêmios nacionais e internacionais, e é reconhecido pelo site da TripAdvisor
como um dos hotéis de maior satisfação dos seus hóspedes em todo o continente sul-americano, e é um dos orgulhos do grupo Orient-Express.
Nada se conquista na vida se não houver perseverança, e esta é a marca registrada de James Sherwood.
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