Ao longo de sua história, o Copacabana Palace nunca esteve longe do
noticiário, tal a quantidade de eventos que lá se realizam, e tal a quantidade
de celebridades que lá se hospedam. Uma
leitura do famoso “Livro de Ouro” do hotel dá conta de quantidade de
celebridades que se hospedaram no hotel através dos anos, incluindo Santos
Dumont, Walt Disney, Stefan Zweig, O Príncipe de Gales e o Duque de York (ambos
futuros Reis da Grā Bretanha), Robert e Edward Kennedy, Ella Fitzgerald,
Maurice Chevalier, Marlene Dietrich, Sammy Davis Jr, Edith Piaf, Princesa
Diana, Bill e Hillary Clinton, Madonna, Paul McCartney, para citar apenas
alguns. Entretanto, nenhuma dessas
personagens mexeu tanto com a rotina do hotel, e nem atraiu tanto a atenção da
mídia, quanto o show histórico da banda britânica The Rolling Stones na praia
de Copacabana em fevereiro de 2006.
A prática de realizar grandes shows na praia de Copacabana já havia
começado alguns anos antes, durante as festas de Reveillon, em função da
necessidade de evitar que todo o público deixasse a praia ao mesmo tempo após a
tradicional queima de fogos. Aos poucas,
os produtores de shows, com o apoio do poder público, passaram a incorporar o espaço da praia nas
suas programações, para o desespero dos moradores do bairro, em função dos
muitos transtornos provocados. O próprio
Copacabana Palace fez de tudo para evitar que eventos fossem programados em
frente ao hotel, e durante alguns anos, obteve algum sucesso neste sentido. Quando fomos consultados entretanto, em
meados de 2005, quanto à possibilidade de realizar um show dos Rolling Stones
em frente ao hotel, vimos logo que a oportunidade era boa demais para desperdiçar. Não somente o Show seria montado exatamente em
frente ao hotel, mas a única maneira de viabilizar a sua realização era o hotel
concordar na construção de uma passarela por cima da Avenida Atlântica ligando
o palco à varanda do hotel. Além disso,
o Show ocuparia todos os dez salões do primeiro andar do hotel que seria
transformados no “back-stage” do evento.
Fomos avisados, desde o inicio, que a banda pretendia filmar todo o
evento, desde as preparações iniciais, para depois lançar um DVD no mundo todo. Além dos salões, a banda ainda ocuparia 60
apartamentos do hotel, incluindo vários suítes, além de quatro suítes de
cobertura para os principais componentes da banda. A data programada também era perfeita, pois
era exatamente uma semana antes de carnaval.
Desde o começo nossa maior preocupação era com a segurança do
evento. Já tínhamos tido, em março de
2005 uma experiência preocupante com um show de Lenny Kravitz num palco
defronte do hotel que muito pouco não acabou numa tragédia. Naquela oportunidade, a concentração de
público em frente ao hotel quase derrubou as grades de proteção colocados para
proteger o hotel, e não fosse a atuação dos 60 seguranças extras contratados
pelo hotel não sei o que teria acontecido.
Mesmo assim, a recepção do hotel foi transformado num ponto de
atendimento de primeiros socorros para as dezenas de pessoas que se feriram no
tumulto. E olha que o show de Lenny
Kravitz era para um público estimado em 300.000 pessoas, e numa
segunda-feira. O show dos Rolling Stones
seria num sábado à noite, com público estimado de 1,5 milhão de pessoas. Voltando ao Show de Lenny Kravitz, o show
quase não aconteceu, pois o Lenny tem pavor de multidões, e quando ele olhou
pela janela de sua suíte e viu quantas pessoas o aguardavam, simplesmente
anunciou que não haveria show, pois não haveria como ele atravessar aquela
multidão até chegar no palco. Depois de
muita discussão, finalmente encontrou uma solução, e Lenny saiu à pé pela
garagem do hotel na Avenida N.S. de Copacabana, vestindo um “hoody” e cercado
por seis seguranças, e deu a volta pela Rua Fernando Mendes até chegar ao palco. O show começou com uma hora de atraso, e
posso afirmar que foi uma das horas mais estressantes na vida do Lenny Kravitz,
e também dos produtores do show.
Voltando ao Show dos Rolling Stones, uma das nossas preocupações era
de como evitar a concentração de pessoas em frente ao palco. A nossa sugestão para as autoridades era de
fechar os acessos a Rua Rodolfo Dantas e Rua Duvivier, a partir da Av. N.S. de
Copacabana, e o acesso da Avenida Atlântica a partir de Rua Fernando Mendes, e
obrigar todo o público de acessar o evento à partir da praça do Lido. Depois de muita discussão, as autoridades
optaram por não impor qualquer bloqueio de acesso pois entenderem que qualquer
tentativa de influenciar o fluxo poderia resultar num tumulto maior ainda, e
era preferível deixar tudo como estava.
O grande problema era que ninguém fazia a menor idéia de quantas pessoas
viriam ao Show. Havia estimativas que o
número seria aproximadamente 1,5 milhão de pessoas, mas tudo não passava de
especulação. Há uma crença generalizada
entre as autoridades que a praia de Copacabana comporta um público de 3 milhões
de pessoas, em toda a sua extensão.
Estes números são frutos de estimativas de quantas pessoas assistem à
tradicional queima de fogos na noite de Reveillon, e, pessoalmente, sempre
achei este número exagerado. O que é certo
é que o espaço da praia não é infinito, e além disso, a distribuição das
pessoas dentro do espaço não é uniforme, já que a maioria quer se concentrar o
mais próximo possível junto ao palco. Além
do risco de ter um excesso de público, havia um outro risco quanto ao tempo, ou
mais precisamente, uma súbita mudança de tempo, muito comum nesta época do
ano, que provocasse uma tempestade e uma
tentativa do público de sair da praia em busca de abrigo, o que poderia
provocar um corre corre e tumultos.
Apesar dessas preocupações, os preparativos para o Show seguiam em ritmo
acelerado, tudo acompanhado pela mídia, tanto nacional, como
internacional. Dez dias antes do Show
tive que ir para os Estados Unidos para participar de um “Road Show” dos
Gerentes Gerais do grupo Orient-Express, quando visitaríamos cinco cidades
americanas no espaço de uma semana para fazer apresentações para os principais
agencias de viagens. Em todas as cidades
que visitamos, o interesse manifestado pelo hotel, e pelo Show dos Rolling
Stones era impressionante. É que, por
sorte, uma semana antes, os Rolling Stones tinham sido a atração principal do
famoso “Half-time Show” do Superball, o final do campeonato de futebol
americano, o evento de maior público de televisão do ano, nos Estados Unidos, e
a banda estava de novo em grande evidência.
Perdi de conta, a quantidade de mulheres (e alguns homens) que me
disseram “mande meus cumprimentos para Mick!”
Chegando ao dia do evento, o Rio amanheceu com um dia perfeito de
verão, com muito sol e nenhuma nuvem no céu.
No meio da tarde recebi uma telefonema de um dos responsáveis pela
segurança, que me disse “Perdemos o controle dos acessos, não temos como
calcular quantas pessoas virão!” No final, como Deus é brasileiro, deu tudo
certo. A noite foi perfeita, quase sem
vento. Além da multidão na praia, havia
centenas de barcos ancorados defronte do palco.
Tudo transcorreu com tranquilidade, para alívio de todos, incluindo os próprios
Rolling Stones. Segundo as estimativas
da Policia Militar, havia um público de 1,3 milhão de pessoas assistindo ao
show. No final das contas, para o Copacabana Palace foi a maior cartada de
marketing de sua história. O Show foi
noticia em todo o mundo, incluindo menções na primeira página do New York
Times, e não havia como falar do Show sem falar do Copacabana Palace. A empresa de assessoria de imprensa que atende ao hotel preparou um clipping
referente ao evento que ocupou três volumes, somente com menções ao hotel na
grande imprensa nacional. Sem dúvida,
foi um dia para entrar na historia. A
hospedagem da banda ainda trouxe uma sequela, que rendeu mais alguns artigos
positivos para o Copa na imprensa. É que
após o evento a então esposa do guitarrista Keith Richards escreveu para o
hotel dizendo que o marido nunca havia dormido tão bem na vida quanto dormiu no
Copacabana Palace, e pedindo para comprar a cama e colchão e todo o enxoval da
cama que havia utilizada durante a sua estadia.
Por algumas dificuldades de ordem burocrática, a venda acabou não se
concretizando, mas a propaganda para o hotel foi excelente.
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