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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Um Hotel Agitado

        Um outro evento que me deu bastante trabalho no Hotel Castro Alves foi a hospedagem de um grupo promovido pelo clube de viagens  Nomad`s Club, para o Carnaval de 1970.  O grupo havia reservada e paga um total de 30 apartamentos - quase 40% da capacidade do hotel - e a única coisa que sabíamos a respeito do grupo era que todos eram americanos, e cada um dos 30 apartamentos reservados seriam ocupados por duas pessoas,  e que passariam uma semana no hotel, ou seja, nada diferente que o usual.  Imaginem então a nossa surpresa quando o grupo desembarcou em frente ao hotel e notou-se logo que o grupo era composto exclusivamente de gays nova-iorquinos, vindo se divertir no Carnaval carioca.  Hoje em dia, tal fato não chamaria qualquer atenção, mas em 1970 foi um verdadeiro escândalo. Logo após terem chegado, os componentes do grupo trocaram de roupa e foram para a praia,  mas em vez de se vestirem com roupas de banho tradicionais, estavam todos vestidos com roupas de banho coloridos, estilo anos 20.   Juntava um multidão de pessoas para assistir-los, e houve muita confusão, pois estamos falando de 1970, quando ainda predominava muita intolerância com os gays.   Alguns  hospedes tradicionais do hotel se revoltaram quando perceberam que quase metade do hotel seria ocupado por hospedes gays, e chegaram a iniciar um protesto exigindo que o grupo fosse expulso do hotel.   Quando perceberem que isto não iria acontecer, uns queriam chamar a policia, enquanto outros ameaçavam processar o hotel - enfim, um enorme confusão, e eu no meio tentando acalmar os ânimos!   Felizmente, com o passar dos dias, os ânimos foram acalmando, mas todos as noites o grupo se juntava em  algum apartamento para fazer uma festa, sendo que cada dia que passava tinha mais amigos brasileiros convidados.  Quando chegava as 10  horas da noite entrava em vigor o lei do silencio, e eu tinha que ir no apartamento acabar com a festa - uma tarefa nada fácil - mas felizmente acabava sendo atendido.  Era um grupo muito alegre e espirituoso, mas não gostavam de brigas e confusão.  Bem, foi uma semana das mais movimentadas, e talvez ate histórico, se foi de fato o primeiro grupo declaradamente gay a visitar a cidade, mas confesso que respirei aliviado quando o Carnaval terminou e o grupo retornou a Nova York! 

       Outro grupo que me deu trabalho foi a hospedagem de um grupo de 30 adolescentes chilenas, todas alunas de uma importante escola de Santiago, acompanhadas por três ou quatro professoras.  Na época, tínhamos acabado de instalar frigobares nos apartamentos e isto era visto como um serviço inovador pois quase nenhum outro hotel dispunham desse tipo de serviço.  Os frigobares eram estocados com águas e refrigerantes e uma variedade de bebidas alcoólicas em garrafas miniaturas.  Numa certa noite, após as professora terem checadas que todas as jovens estavam dormindo, e se recolherem, as meninas resolverem se juntar num apartamento e começaram a experimentar as bebidas miniaturas.  Não tardou muito para uma delas sugerir que seria engraçado ver quantas delas poderiam caber dentro do elevador, que tinha uma capacidade autorizada para seis passageiros.  Bem, conseguirem colocar 15 meninas no elevador, e tentaram descer do quinto para o quarto andar.  Só que o elevador, não parou no quarto andar, desceu lentamente ate o poço do elevador.  O recepcionista noturno conseguiu abrir a porta do térreo, mas só tinha aproximadamente 20 centímetros de espaço entre o teto do elevador, e o piso do andar térreo, espaço insuficiente para tirar uma pessoa com segurança.  Eram duas horas da madrugada, e tinha que chamar o plantão da manutenção dos elevadores, para tirar o elevador do poço.  Enquanto isso, o calor era insuportável, e as colegas das meninas que não haviam entrada no elevador passaram a jogar copos de agua pela abertura para refrescar as meninas presas.  No fim, levou quase uma hora para que fossem retiradas.  Enquanto estiveram presas, conseguiram manter a calma, mas quando finalmente foram liberadas, todas tiverem um crise de choro, algumas desmaiavam, e o lobby do hotel ficou completamente tomada com adolescentes chilenas deitadas no chão, todas de pijama, molhadas dos pés a cabeça.  Uma cena e tanto para os poucos hospedes que presenciaram o fato. 



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