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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O Plano Cruzado

Como já mencionei, o movimento de turismo no Rio andava movimentado, com muito turismo estrangeiro, e as taxas de ocupacao do Rio Palace continuava em alta.  Esse bom movimento cresceu ainda mais depois da introducao pelo governo do  Plano Cruzado, o primeiro dos planos radicais que visavam romper com a inflacao galopante e estabilizar a moeda.  O sucesso inicial do plano provocou um explosão de consumo no mercado nacional. E isto, aliado ao bom movimento de turistas estrangeiros,  permitiu que o hotel atingisse uma taxa de ocupacao media de 91% nos 12 meses entre julho de 1986 e junho de 1987.  Era um resultado fantástico, especialmente para um hotel de 415 apartamentos, e todos ficavam felizes com os resultados.  Não obstante isso,  nem tudo estava um mar de rosas.  Uma parte importante do Plano Cruzado  era a introducao de um tabelamento e um congelamento de preços, e isso trouxe toda sorte de problemas para os hotéis.  Um dos problemas criados era o tabelamento dos preços de refrigerantes e cervejas.  Com a medida, todos os estabelecimentos comerciais tinham que vender ao preço de tabela, o que obrigava os hotéis a praticar os mesmos preços praticados num botequim, não obstante o fato que a estrutura de custos num hotel de cinco estrelas ser muitíssimo maior que num botequim.   Mesmo assim, não tivemos alternativa, a não ser cumprir a lei, mesmo demonstrando que uma pessoa que sentasse no Bar do hotel, e consumisse apenas uma cerveja, e depois pedisse a conta, resultaria em prejuízo para o hotel,  já que o custo da própria nota fiscal, imprimido em papel carbono com trés vias custava mais que a margem de “mark-up” permitido, e isso sem computar os demais custos indiretos associados ao um serviço de cinco estrelas.   O fato de ter cumprido a lei não nos livrou de um grande aborrecimento com os fiscais da SUNAB – orgão responsável pela fiscalizacao do tabelamento.  Certo dia aparecerem três fiscais discordando do nosso “mark-up”  do preço de cerveja.  A discordancia era sobre se o “mark-up” de preços permitia incluir o custo do ICMS, ou não.  O hotel entendia que sim, enquanto os fiscais da SUNAB entendiam que não.  A diferença no preço final era de apenas alguns centavos, mas os fiscais ameaçavam emitir um auto de infracao para cada nota fiscal emitida em desacordo com a sua interpretacao, o que resultaria numa multa milionária, já que haviam centenas de notas fiscais emitidas com o preço “errado”.  Propuseram, entretanto uma solucao mais barato.  US$15 mil dólares, em especie, para cada um dos três, e estaria tudo resolvido.   Estávamos em pleno época dos “fiscais do Sarney”, quando donas de casa ia aos supermercados com suas maquinas de calcular e suas planilhas para checar os preços.  Diariamente aparecia no Jornal Nacional algum reportagem demonstrando a atuacao firme da SUNAB, cujo Superintendente, era diariamente noticiado em alguma acao de fiscalizacao.  Fiquei indignado com a proposta  e disse-lhes, “Nao vou pagar um centavo de propina para vocês. Podem autuar da forma que querem, mas fiquem certos, vou comunicar essa conversa ao Superintendente da SUNAB”.  Eles não pareciam muito preocupados com essa ameaça, e do dia seguinte lavraram a autuacao e multa correspondente.  Na época foi a maior multa aplicada ate então pela SUNAB, e foi noticiado em vários jornais, inclusive na Gazeta Mercantil.  Fui procurar o Superintendente da SUNAB.  Demorou algumas semanas, mas finalmente foi marcado um encontro nos escritórios que SUNAB mantinha no prédio do Ministério da Fazenda  no  centro do Rio.  Levei toda a documentacao, e relatei tudo que havia passado durante o processo de fiscalizacao.  Ele me ouviu atentamente, e depois chamou seu  Chefe de Gabinete, e pediu que eu repetisse toda a historia na frente dela.  Deixei com eles copias da documentacao e fui embora.  Os três fiscais foram temporariamente afastadas de suas funcoes, mas poucos meses depois eles já estavam de volta, infernizando a vida dos hoteleiros cariocas.  Do Rio Palace, entretanto, eles mantinham uma distancia grande, pois, segundo eles relataram para um  hoteleiro,  amigo meu, “la tem um francês  louco que não entende nada do Brasil,  e cria muitos problemas!”.   Enquanto isso, o Plano Cruzado, que começou com tantas esperanças acabou fracassando.  O aumento de consumo resultou num grave crise de   desabastecimento,  e o congelamento de preços resultou no surgimento de um mercado negro e o pagamento de “agios” para comprar mercadorias de necessidade.  No final de 1986 os preços foram liberados e a inflacao voltou mais forte que nunca.

Um comentário:

  1. Oi Sr. Philip,

    Parabéns por esta redação maravilhosa de uma vida pessoal e profissional de sucesso que serve de exemplo para todos nós.

    Sinto-me honrada de ter participado de uma equipe comandada por um profissional de tamanha grandeza que além de ser o grande profissional que é também sabe dirigir sua equipe com firmeza mas com um sentimento de humanidade que não encontrei em nenhum dos outros com quem trabalhei.

    Sua história de vida é mesmo fabulosa!

    Aguardo anciosa a sequência dos fatos.

    Abraço,

    Stela Pacheco

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