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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Formula Um

Apesar que o Rio Palace continuava a ter bons resultados durante a década de `80,  no inicio de 1989, para um atento observador, já dava para sentir que a cidade começava a perder sua atratividade como destino turístico no mercado internacional.  Na verdade, a imagem da cidade já tinha ficado bastante prejudicado no mercado nacional, e a quantidade de brasileiros que passavam ferias na cidade já vinha caindo ao longo da década, mas como esta queda de brasileiros vinha sendo compensada por um aumento de turistas estrangeiros, os hotéis continuava a colher bons resultados.  No final da década, entretanto, os estrangeiros também começava a se afastar.  O problema era uma só, o aumento da criminalidade e violência, que era um fato real, aliado ao exagerada divulgacao dada pela mídia local,  para  qualquer fato negativo .  O problema era ainda mais exacerbado pelo fato que a maioria dos correspondentes estrangeiros estava sediados no Rio de Janeiro, e qualquer fato negativo noticiado nos  principais jornais da cidade era imediatamente passado para o exterior, gerando noticias alarmantes na imprensa estrangeira.  Se este quadro negativo não bastasse, em 1989 o governo do PDT, que comandava a Prefeitura do Rio na época, conseguiu a proeza de perder um grande evento para a cidade, que era a realizacao do Grande Premio de Formula 1, que vinha sendo realizado na cidade desde 1981.  O Grande Premio de Formula 1, era um evento que, junto com Réveillon e Carnaval, formava o trio de grandes eventos de verão, pois o Grande Premio Brasil era normalmente realizado no inicio de abril, muitas vezes coincidindo com a semana de Pascoa.  Falava-se que a grande temporada de verão iniciava-se com Réveillon,e terminava com a Pascoa.  Quanto mais tarde ficava no ano a Pascoa, melhor.  Todo ano tinha havido discussões  torno do custo da F1, que era parcialmente patrocinado pela Prefeitura do Rio, também proprietario do autódromo, mas sempre acabavam chegando a um acordo.  Em 1989, quando começava a negociar a corrida de 1990, a Prefeitura achavam que estavam em condicoes de negociar um contrato melhor com  Bernie Ecclestone, o dono da Formula Um, pois acreditavam que a imagem do Rio era essencial para o sucesso do evento no Brasil.   Participei, junto com alguns outros hoteleiros, e outras pessoas ligadas ao trade turístico em algumas reuniões com a Secretaria de Turismo, quando o assunto era amplamente discutido.  Dizíamos para o governo, “ OK, se vocês acham possível arrancar mais algum dinheiro do Bernie Ecclestone, tudo bem, mas, pelo amor de Deus, não percam este evento para Rio.  Ele e essencial para completar a temporada de Verão, e ainda tem a vantagem de divulgar uma imagem positiva da cidade em todo o mundo.  O Rio precisa do “glamour” da Formula Um”. “Nao se preocupam”, dizia o governo, “sabemos ate onde podemos ir, e sabemos quanto importante o evento e para Rio, não há perigo do Rio perder este evento”  Lamentavelmente, não foi isso que aconteceu.  Enquanto o governo do Rio negociava com Bernie Ecclestone, este, raposo velho, negociava com São Paulo, e um dia fomos todos surpreendidos com a noticia que Bernie Ecclestone havia assinado um contrato com o governo de São Paulo, e levaria a Formula Um para la já a partir de 1990.  Foi um choque enorme para o trade turístico carioca.  Tentamos de tudo para reverter a decisão, mas não houve jeito, e ate hoje, passado 21 anos, o Grande Premio de Formula Um continua sendo realizado em São Paulo.  Foi uma grande perda para a cidade!

           A ultima corrida de F1 no Rio acabou sendo o GP Brasil de 1989, e foi realizado no Domingo de Pascoa, e, por um incrível golpe de sorte, acabou me proporcionando uma experiência inesquecível.  Na sexta-feira, o feriado de semana santa, foi o primeiro dia dos treinos oficiais, e fui ate o autódromo para assistir.  Na volta do autódromo, passei no Gavea Golf Clube e na hora que cheguei na portaria do clube deparei com a cena do piloto inglês Nigel Mansell, junto com a sua esposa e um segurança, sendo impedidos de entrar no clube.  E que Mansell, um golfista aficionado, havia ido ate o Gavea todos os dias da semana, pagando o “green-fee” para poder jogar.  Ocorre, entretanto, que nos fins de semana e feriados os visitantes não são permitidos, a não ser que sejam convidados de algum sócio, e como era o feriado da sexta-feira santa, o porteiro estava simplesmente aplicando a regra.  Percebendo a situacao, apressei-me em me apresentar para Mansell e ele acabou entrando no clube como meu convidado, e fomos jogar 18 buracos de golfe juntos, enquanto a sua esposa e o segurança aguardavam na varanda do clube.  O Mansell era um excelente jogador – na época tinha um handicap 2 – e me disse que o sonho dele quando deixava de pilotar era se preparar para tentar disputar o torneio “Senior” do Tour Europeu.  Passamos um fim de tarde muito agradável e no fim do jogo ainda tomamos umas cervejas no tradicional buraco 19.  Como agradecimento pelo convite que eu havia feito para ele jogar golfe, ganhei um convite TOP VIP da Ferrari para assistir a corrida no Domingo.  Era a estreia de Mansell no Ferrari, e ele não estava muito otimista em relacao as suas chances.  O carro ainda estava em testes e ele não tinha conseguido dar muitas voltas sem alguma coisa quebrar.  Ele achava que terminar a corrida, já seria uma vitoria.  paddock e nos boxes.  Tinha avistado Mansell dentro do box da Ferrari, mas muito concentrado e compenetrado e não quis incomodar-lo.  Mais tarde encontrei com a esposa dele, e ela me cumprimentou amistosamente e perguntou “Voce já falou com Nigel?”, “Nao, o vi no box mas não quis incomodar-lo”, respondi, “vamos ate la falar com ele” ela disse.  Fui la, conversei com ele um pouco, desejei boa sorte, e depois sair para passear mais.  Quando os carros já estavam alinhados no grid de largada, eu estava na pista junto com os mecânicos e os engenheiros da equipe, e só sair da pista quando levantaram a placa assinalando que faltava  dois minutos para o inicio da corrida.  Pulei o guard-rail junto com os demais, e me coloquei mais ou menos 50 metros na frente da linha da chegada para assistir a largada. Naquele tempo, não existia  a volta de apresentacao, e os carros já largavam a toda velocidade.  A largada foi assustadora, um barulho ensurdecedor de roncar de motores, e os carros passando a centímetros do guard-rail.  O Mansell havia largado em sexto lugar no grid, mas uma batida envolvendo Senna e Berger na primeira curva resultou em Senna perdendo as asas dianteiras do seu carro e foi obrigado a ir para os box fazer a troca, perdendo muito tempo.  Com isso Mansell pulou para terceiro lugar, atras de Prost e Patrese.  Depois de uma corrida muito emocionante, com muitas alterancias na liderança, o Mansell acabou vencendo a prova com Prost em segundo.  Foi uma vitoria inteiramente inesperada , e o Box da Ferrari virou uma loucura.  Aguardei um pouco para ver se eu teria condicoes de cumprimentar Mansell pela vitoria, mas a confusão era  grande e não dava para chegar perto.  De qualquer maneira, foi uma tarde inesquecível, pena que foi a ultima corrida de F1 realizado no Rio.

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