Uma das consequências da melhoria na taxa de ocupação a partir de 1997
foi a renovação da determinação do James Sherwood em ampliar o numero de
apartamentos existentes no hotel. Desde
o advento dos grandes hotéis na orla de Copacabana durante a década de ’70,
havia se firmado um concenso que a única maneira de tornar o Copacabana Palace
competitivo era de ampliar o numero de apartamentos existentes nos dois prédios
que formam o conjunto do Copacabana Palace.
Isto porque, apesar de sua grande amplitude, os dois prédios consistiam
de apenas 223 apartamentos na sua totalidade, e isto contrastava negativamente
em comparação com os 530 apartamentos do Meridien, os 560 do Rio Othon, os 415
do Rio Palace, e assim por diante. A
família Guinle, antigos proprietários do hotel, haviam apresentado um projeto
que consistia na derrubada do prédio principal a sua substituição de uma nova
torre que teria 700 apartamentos. Foi o
clamor publico contra este projeto que levou ao tombamento do prédio principal,
e o sepultamento de qualquer chance de ampliar o hotel. Quando James Sherwood adquiriu o hotel em
1989, estava ciente do tombamento, e da necessidade de manter a fachada
inalterada, mas achava que mesmo assim poderia ampliar o numero de apartamentos
construindo novos apartamentos em diversos espaços ociosos dentro do hotel. Na
sua avaliação inicial, o Sherwood considerava que havia espaços suficientes
para chegar a 300 apartamentos.
Infelizmente, nenhum dos espaços identificados por Sherwood como
possíveis área de ampliação demonstrou ter viabilidade. Uma das ideias do Sherwood era de construir
apartamentos em volta da piscina. Para
isso, ele queria que o muro divisório com o prédio vizinho do Chopin recuasse quatro
metros dentro da servidão, ou que, além de ser impossível de aprovar, ainda
teve como consequência acirrar os ânimos dos nossos ilustres vizinhos, que
levou um bom tempo para serenar. Outra
área de ampliação, segunda a visão do Sherwood, era debaixo do telhado do
antigo casino, com apartamentos voltados tanto para a quadra de tênis como para
a Avenida N.S. de Copacabana. Este
projeto, assim como outros apresentados, foi sumariamente rejeitado pelo
Patrimônio Histórico. Inicialmente, o
Sherwood ficava frustrado em não conseguir ampliar o número de apartamentos,
mas na medida em que o tempo ia passando, e a ocupação do hotel mantinha-se
baixa, esse entusiasmo de ampliar o hotel foi diminuindo. No final da década de ’90, entretanto, esse
entusiasmo de ampliar o hotel voltou, e desta vez, o Sherwood encontrou na
pessoa do então Prefeito da cidade, Luís Paulo Conde, uma pessoa disposta a
ajuda-lo. O Conde, além de Prefeito, era
também arquiteto, e antes de ser eleito Prefeito havia sido o Secretário de
Obras da cidade. Um dos dilemas que o
hotel enfrentava era o que fazer com os antigos salões do casino, voltados para
a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, e há muito tempo abandonados. Eram espaços valiosos, mas que em nada
contribuíam para o resultado do hotel.
Com o incentivo do Prefeito, o Sherwood apresentou então um projeto para
a construção de um novo prédio - um segundo Anexo - ocupando todo o espaço antes ocupado pelos
salões do antigo casino. Seria um prédio
de 16 andares e teria um total de 162 novos apartamentos. O novo prédio seria integrado ao prédio
existente através de uma conexão situada na atual quadra de tênis, de modo que
a entrada única do hotel continuaria a ser pela a Avenida Atlântica. Na minha avaliação, tal projeto, caso fosse
concretizado, teria consequências catastróficas para o futuro do Copacabana
Palace, pois a ampliação do hotel em mais de 70%, sem nenhuma ampliação das
áreas públicas, e com apenas limitadas expansões das áreas de serviço,
comprometeriam seriamente a qualidade dos serviços oferecidos. Além disso, a existência de um hotel de 385
apartamentos obrigaria o hotel a aceitar reservas de segmentos do mercado
turístico que fogem da definição de mercado de luxo, com consequências
negativas para a imagem do hotel. Não
obstante meus argumentos, o Sherwood demonstrou determinação em seguir adiante
com a aprovação do projeto. O Prefeito
Conde se tornou um grande aliado, pois achava que a nova construção iria
revitalizar uma área degradada nos fundos do hotel e com a sua ajuda, o projeto
foi aprovado tanto na Prefeitura como nos órgãos de Patrimônio Histórico, tanto
na esfera municipal, como na esfera estadual.
Porém, quando o projeto chegou ao escritório regional da Iphan no Rio de
Janeiro, já na esfera federal, encontrou obstáculos na aprovação que nem o Prefeito
Conde foi capaz de superar. Depois de
algum tempo, e muita pressão politica, o projeto saiu do escritório regional no
Rio de Janeiro e foi encaminhado para a administração central da Iphan em Brasília,
e lá permaneceu sem notícias por vários meses.
Enquanto isso, o Sherwood, em Londres, continuava a fazer lobby para a
aprovação do projeto com todos os embaixadores, ministros, e outras autoridades
brasileiras que passassem pela cidade.
Este trabalho do Sherwood rendeu frutos, pois após algum tempo, e fomos
procurados pelo próprio Presidente da Iphan, que nos disse basicamente o
seguinte; Da forma que o projeto se encontrava, seria muito difícil aprova-lo,
pois o mesmo já havia saído do Rio “contaminado” por um parecer negativo. A sugestão do Presidente da Iphan era que
devíamos substituir o projeto em aprovação por outro projeto, de autoria do
Oscar Niemeyer. Segundo a ótica do
Presidente da Iphan, seria muito pouco provável que um projeto do Niemeyer não
fosse aprovado. Nós disse ainda que ele
já havia conversado com Niemeyer sobre este assunto e que Niemeyer concordaria
em fazer o projeto, caso fosse convidado.
Levamos então o assunto para Londres, e não demorou muito para vir à
resposta, Sherwood concordou em substituir o projeto por outro de autoria do
Niemeyer.
Os subsequentes contatos com Niemeyer foram, no mínimo, folclóricos. Nesta altura o Niemeyer já estava com 95 anos
de idade. Não obstante isso se mantinha
totalmente lúcido e se locomovia bem, embora lentamente. Na sua primeira visita ao hotel, olhou
longamente para a fachada com um olhar contemplativo, e depois de algum tempo
se virou para mim e disse “Este prédio é uma m****, jamais devia ter sido
tombado!” Não achei prudente explicar que o prédio foi tombado pelo seu significado
histórico, não arquitetônico. Numa outra
ocasião, já desfrutando de mais intimidade com o grande homem, perguntei, “O
Senhor ainda se identifica como comunista?”, “Comunista não”, veio à resposta
“Sou Stalinista, Stalin foi o maior homem do século XX!” O projeto original do
novo Anexo que havíamos apresentado contemplava uma fachada com características
que harmonizava com o prédio existente.
O projeto de Niemeyer, em contraste, era totalmente o oposto. Tratava-se de uma fachada totalmente em vidro
fumê preto, com apenas a marquise da entrada do Teatro mantido. De qualquer maneira, o Sherwood gostou do
projeto e Niemeyer, invertendo o caminho normal das aprovações, nos disse, “Em
30 dias, eu aprovo este projeto na Iphan em Brasília, depois vocês tratam de
obter as aprovações nos níveis estadual e municipal, pois com essa gente, eu
não trato”. Apesar do otimismo do
Niemeyer, a resposta da Iphan não vinha. O tempo foi passando, e nada de
aprovações. Finalmente, conseguimos
desenvolver um “business plan” e demonstrar para Sherwood que havia um
alternativo para os antigos salões do casino, que seria a sua transformação em
salões de eventos. Depois de muitas discussões, o Sherwood
aprovou o novo plano e com isso a ideia de construir um novo prédio foi
definitivamente sepultada. No seu livro
de memorias, o Sherwood identifica a não concretização do novo prédio como
sendo a sua maior frustração, em relação
ao Copacabana Palace, mas também reconhece que os novos salões se tornaram um
grande sucesso, e termina dizendo “so who am I to complain?”
Deus escreve direito por linhas tortas... prefiro a arquitetura do Copa aos mamarrachos do Niemeyer, inabitáveis na sua maior parte...
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