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quinta-feira, 9 de junho de 2011

O Principio de Unidade de Comando

        Uns dois meses depois eu ter chegado em Sao Paulo me encontravam no meu escritorio pela manha quando minha secretaria me informou que havia um Sr. Alcantara no telefone querendo falar comigo, mas que ele nao queria revelar qual era o assunto, embora fosse urgente.  Atendi o telefonema, pensesando que pudesse ser alguem do grupo Alcantra Machado, responsavel na epoca pelo centro de convencoes do Parque do Anhembi, mas  logo descobri  que o Sr. Alcantara era um garcon que trabalhava no VIP`s Bar, o movimentado Bar do hotel.   O garcon entao relatou que o Maitre do Bar, um veterano italiano muito simpatico, mas tambem muito “mafioso”, vinha cometendo um serie de arbitrariedades e abusos, exigindo propinas diarias dos garcons, e inclusive furtando garrafas de bebidas que eram entao vendidos com descontos para os clientes regulares do Bar.  Disse ainda que, na vespera, havia sido servido um “welcome drink” para um grupo que chegava no hotel, e que havia sobrado tres garrafas de rum, que, em vez de retornar ao estoque do Bar, haviam sidos escondidos debaixo da cesta de roupas sujas para depois serem vendidos diretamente aos clientes.  “Se fizer uma vistoria na cesta de roupa suja, o Senhor vai comprovar o que eu estou dizendo”, disse o garcon, e desligou.  Eram 9.30hrs da manha, e o Bar so abria as 11 horas, mas o pessoal entrava em servico as 10.30hrs.  Procurei o gerente-geral, mas ele estava reunido com Cortez, e nao podia ser interrompido.  Chamei entao o gerente de alimentos e bebidas, um alemao com pouco tempo de Brasil, e relatei o que o garcon havia me contado.  Combinamos entao que o gerente de A&B faria uma vistoria rotineira no Bar, prestando especial atencao a cesta de roupa suja, e quando isto foi feito acabou revelando a existencia das tres garrafas de rum.  As garrafas foram recolhidas ao escritorio do gerente de A&B, que entao aguardou a chegada do Maitre do Bar, para pedir explicacoes.  Assim que chegou ao Hotel o Maitre foi chamado ao escritorio do gerente, mas quando comecou a ser questionado sobre o ocorrido reagiu, e disse “Ja que voces estao desconfiando de mim, eu peco as minhas contas.  Nao admito que alguem desconfia de mim, e nao trabalharei mais nesta casa”, e com isso pediu licenca, saiu do escritorio do gerente, passou no departamento de pessoal, assinou uma carta pedindo demissao, e foi para casa.  Assim, que a reuniao do gerente-geral terminou, fui ate o seu escritorio e relatou o que havia ocorrido.  “OK”, ele me disse, “mas reforca o servico no Bar para esta noite.  O Cortez e um frequentador assiduo la, ele vai perceber a falta do Maitre, e eu nao quero nenhum problema com o servico”  Colocamos entao um maitre substituto no lugar do italiano, reforcamos o servico com mais quatro garcons, e tudo parecia correr bem.  Aos 18 horas, como de habito, o Cortez apareceu no Bar, ficou la por duas horas e depois foi jantar com o gerente-geral.  Depois do jantar o gerente-geral me chamou e disse “Convoca todos os garcons e barmen do VIP`s Bar para uma reuniao no meu escritorio, amanha as 11 horas.  E convoque o gerente de A+B e o gerente de Recursos Humanos tambem”  Na hora marcada todos estavam la.  Haviam ao todo 12 garcons e barmen, e a sala do gerente-geral estava cheio.  “Quem de voces confirmem as alegacoes que o Maitre vinha furtando garrafas de bebidas e praticando outras irregularidades?” perguntou o gerente geral.  Todos confirmavam, dando diversos exemplos, e ainda relatavam outors  abusos que o italiano habitualmente praticava.  Todos, menos um, um barman de descendencia japonesa , que recusava a confirmar o que todos os outros diziam, e se limitava a balancar a cabeca negando que tivesse conhecimento de qualquer irregularidade.  Quanto mais o gerente-geral o pressionava para confessar o que todos os outros diziam, mais o japones apenas balancava negativamente a cabeca.  Nao sabia de nada, nao tinha visto nada, nunca tinha tomado conhecimento de qualquer irregularidade, e desconhecia qualquer abuso praticado pelo Maitre.  Parecia que o japones so podia ser comparsa do italiano, e quando todos pensaram que ele seria demitido, o gerente-geral virou para o gerente de Recursos Humanos, e decretou “Todos esses onze que denunciaram o Maitre estao demitidos, com efeito imediato.  O japones, deve voltar ao servico. Mande um carro na casa do Maitre, e traga-o de volta ao trabalho.  Avise-o que sua carta de demissao nao foi aceita. A reuniao esta terminado, podem sair”, e assim foi feito.  Fiquei estupefato.  Virei para o gerente-geral depois que todos haviam saido, e disse “Como e possivel fazer isso.  Esta muito evidente  que o Maitre esta furtando, e cometendo um serie de abusos.  Como podemos ser conivente com isso?  Que exemplo estamos dando para os demais funcionarios?” “Sei, que voce nao entendeu nada, mas a ordem de demitir todo mundo foi do Cortez, e tem que ser obedecido”, me respondeu o gerente geral.   No fim de tarde, Cortez me chamou ao seu escritorio, junto com o gerente de A&B.  “Sei que voces nao concordaram com minha decisao.  Mas nao aceito, de maneira alguma, que um superior hierarquico, nao importa em qual nivel hierarquico esteja, possa ser derrubado por uma denuncia oriundo de um subordinado.  A hierarquia tem que ser mantida acima de qualquer outra consideracao.  E um principio de qual nao abro a mao em quaisquer circumstancias. Se nossos controles internos haviam apontado as discrepancias no estoque no Bar, eu nao diria nada, alias, eu estaria a favor da demissao do Maitre, mas, atraves da denuncia de um subordinado, nunca.  Agora, que voces ja sabem que o Maitre nao e confiavel, devem reforcar os controles internos no Bar, e efetuam mais “spot checks” inesperados.  Na hora que voces reunem evidencias claras de irregularidades, podem demitir o Maitre, mas nao antes”, e assim encerrou a reuniao.  Levamos seis meses para conseguir juntar estas provas, mas finalmente conseguimos, e o Maitre  foi, finalmente, demitido.



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