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terça-feira, 19 de julho de 2011

Recife, Pernambuco

        Com tamanha adversidade na Europa, e com a saúde do meu Pai ainda preocupando, era óbvio que eu deveria permanecer em Brasil, e de preferência, em Recife, pois assim poderia dar mais assistência ao meu Pai e Gracinha.  Comecei a fazer alguns sondagens e logo apareceu uma oportunidade boa, que era trabalhar com um empresário local – sem qualquer experiência anterior em hotelaria – que estava construindo um hotel de luxo numa excelente localização na praia de Boa Viagem, o principal praia de Recife.  O hotel , que havia sido projetado por um jovem e talentoso arquitecto local, teria apenas 70 apartamentos, mas pretendia se diferenciar dos demais hotéis da cidade pelo requinte na decoração, e por oferecer um serviço personalizado de alta qualidade.  Não se usavam este termo na época, mas seria um espécie de “boutique” hotel.  Eu seria responsável por montar toda a área operacional do hotel, recrutar e treinar os funcionários, e ainda de desenvolver o plano de marketing e toda a estratégia de comercializacao do hotel.  A oportunidade era mesmo muita boa, e foi assim que fui trabalhar para o Hotel Savaroni.  A primeira providência foi trazer a minha família de volta ao Brasil, e nos nos instalamos num otimo apartamento de frente para a praia em Piedade, que meu pai usava para o veraneio.  Depois de seis meses enfrentando o frio inverno e o crise económico  na Inglaterra, e ainda mais desempregado, a sensação de estar novamente empregado, e ainda mais morando a beira mar num pais tropical, era maravilhosa. Lamentavelmente, um mês depois que comecei a trabalhar no Savaroni, o estado de saúde do meu Pai novamente piorou,  e ele veio a falecer, ainda jovem com 53 anos de idade, deixando minha madrasta Gracinha viúva e com duas filhas pequenas ainda para criar. Eu estava ao lado do meu Pai na hora de sua morte, e suas ultimas palavras para mim foi uma recomendação para que eu cuidasse das minhas pequenas irmãs, como se fossem minhas próprias filhas.  Espero não ter o decepcionado, e tenho certeza que hoje ele ficaria muito feliz  com o sucesso de ambas, conseguido, diga-se de passagem, graças  sobretudo ao empenho e esforço de Gracinha.

        

        De qualquer maneira, eu já estava instalado com a família em Recife, e agora tinha que me dedicar ao trabalho. O trabalhou no Hotel Savaroni começou  bem e fomos logo desenvolvendo os planos para a pré-abertura do hotel.  Havia muitas reuniões também com os architectos onde íamos acertando os ultimas detalhes da decoração do hotel, e a nossa expectativa era de inaugurar o hotel no inicio de 1975.  Quando tudo parecia correr bem, ocorreu um novo fato que alterou drasticamente os planos – a falta de dinheiro!  O projeto económico-financeiro do hotel havia sido desenvolvido contando com financiamentos do BNB – Banco do Nordeste do Brasil, e BANDEPE – Banco do Estado de Pernambuco, e contava com a entrada de recursos do empreendedor.  Uma parte desses recursos próprios era representada pelo valor do terreno em que o hotel se situava, mas alem disso era previsto outros aportes de recursos próprios, e quando isto não aconteceu, os bancos oficiais deixaram de liberar parcelas de financiamento.  Com isso, as obras no hotel foram praticamente paralisados, e em vez de cuidar dos planos operacionais do hotel, me vi cada vez mais envolvido com negociacoes com os bancos, e com os credores, que eram muitos.  Para piorar ainda mais a situação, o empreendedor pernambucano teve um problema de saúde que o deixou praticamente afastado da empresa por um período de quase seis meses. Na ausência dele,  passei a ser a pessoa que se relacionava diretamente com os bancos oficiais.  Para mim, esta  experiência acabou sendo otima, e  acabei aprofundando meus conhecimentos da área financeira, alem da condução de um empreendimento no seu todo.  Havia ficado claro, nas primeiras reuniões com os bancos, que o problema de financiamento não ficaria resolvido caso não houvesse  uma troca no controle acionario da empresa, ou então um aporte de recursos num montante superior ao que o empreendedor pernambucano dispunha.  Infelizmente, o empreendedor não aceitava esta solução, preferindo acreditar que contactos políticos poderiam solucionar o impasse.  Passou-se vários meses, e nada se resolvia.  Finalmente, o empreendedor aceitou negociar o controle acionario, e poucas semanas depois o hotel foi vendido para um forte grupo empresarial pernambucano.  Esse novo grupo desejava que eu continuasse a frente da operação do hotel, mas nesta altura eu já havia decidido retomar minha carreira hoteleira convencional, e estava feliz por ter conseguido um novo emprego em Hotéis Othon no Rio de Janeiro, onde retornaria após um intervalo de quase três anos.  Apesar das dificuldades, os dois anos e meio que havia passado em Pernambuco foram muito proveitosos.  A qualidade de vida que desfrutamos era muito boa, tínhamos muitos amigos, e o convívio com a família de Gracinha muito gratificante.  Alem disso, eu havia aprendido a jogar golfe, esporte que ate hoje pratico. E tinha voltado a estudar.  Como era complicado validar minha diploma inglesa no Brasil, havia feito o curso supletivo do segundo grau e obtido o diploma de conclusão do curso secundário.  Havia também passado no vestibular, só não me matriculando no curso de Economia em função da minha mudança de volta para  o Rio.

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