Comparado com Bahia, o trabalho no Othon de Belo Horizonte foi bem mais tranquilo, pois, embora os dois hotéis eram de tamanho similar (o Othon de BH tinha 317 apartamentos, contra 301 da Bahia), o hotel de Belo Horizonte era infinitivamente mais fácil para administrar. As razoes disso eram várias, começando pelo fato que em Belo Horizonte já encontrei uma equipe gerencial super bem montada, e muito profissional. Diferente do que ocorrera na Bahia, o trabalho de abertura do hotel, realizado exatamente um ano antes de eu chegar, havia sido muito bem planejada e executada, e o hotel já havia consolidado sua posição como o melhor hotel da cidade. Alem disso, o hotel era frequentado principalmente por executivos em viagens de negócios a Belo Horizonte, que e uma clientela bem mais fácil de lidar de que tratar com o turista de lazer, que era a clientela predominante na Bahia. Somando-se a isso, a mão de obra local era disciplinado e responsável, e isso facilitava muito o trabalho dos gerentes. O hotel desfrutava de uma boa taxa de ocupação durante os dias de semana, mas a ocupação caia muito nos finais de semana, o que permitia que metade dos funcionários folgasse aos Sábados, e a outra metade aos Domingos. Os fins de semana, portanto, sempre eram muito tranquilos, e isso também representava um grande contraste com Bahia que tinha os fins de semana muito movimentados.
Apesar de ter trocada a praia de Ondina em Salvador pela Avenida Afonso Pena, no centro de Belo Horizonte, a qualidade de vida que desfrutávamos na cidade era muito boa. Nos finais de semana frequentávamos os otimos clubes existentes na cidade, onde passei novamente a praticar o ténis, com os amigos, enquanto as crianças brincavam nas piscinas. Fizemos boas amizades na cidade, e assim éramos convidados para muitos eventos sociais, o que tornava a vida ainda mais agradável, e a vida seguia com muita tranquilidade. Aproveitamos também os fins de semana para conhecer as cidades históricas de Minas, como Ouro Preto e Mariana, que ficam próximas a Belo Horizonte, e as vezes vínhamos para o Rio, já que a distancia não e tão grande, mesmo de automóvel.
Não obstante o Belo Horizonte Othon ser um hotel super tranquilo, ocorreu um episódio inusitado, que nos causou um grande dor de cabeça. Um hospede, um senhor de Recife, Pernambuco, preencheu o formulário de “sugestoes de hospedes” que os hotéis colocam nos apartamentos para avaliar a qualidade dos serviços, queixando-se dos altos preços cobrados pela lavandaria do hotel para lavar algumas camisas. Como de habito, o hospede colocou seu nome e endereço no formulário, mas em vez do formulário ser depositado no caixa existente para este fim na recepção do hotel, não se sabe como, o formulário foi para na mão de uma outra pessoa, que resolveu responder a reclamação como se fosse ele próprio o dono do hotel. Datilografada em papel timbrada do hotel, a carta era muito bem escrita, mas em vez de pedir desculpas, ou de justificar o preço cobrado pela lavandaria, era ofensiva ao extremo. A carta começou dizendo que o reclamante era obviamente uma pessoa de poucos recursos, visto que viajava com pouca roupa, dai a necessidade de recorrer aos serviços da lavandaria do hotel . Se fosse “uma pessoa do bem” viajaria com uma quantidade de camisas suficientes para dispensar um serviço de lavandaria. Ainda por cima, tratava-se obviamente de uma pessoa mesquinha, pois apenas uma pessoa mesquinha reclamaria sobre algo tão insignificante quanto ao preço da lavagem de uma camisa. A carta concluía que o reclamante certamente não estava habituado a frequentar hotéis de cinco estrelas, e terminou recomendando ao ex-hospede que “... na sua próxima visita a Belo Horizonte, recomendo-lhe procurar hospedagem num pensão barato, perto do Rodoviário, onde certamente V.S. descera do ónibus ao chegar de Recife. Assim você se sentira mais em casa, e quanto ao meu hotel, limita-se a passar pela porta” No final, a carta estava assinada por Roberto Bezerra de Mello, um dos acionistas de Hotéis Othon, e também residente na cidade de Recife, onde era uma pessoa muito conhecida. Vocês podem imaginar a indignação do recipiente ao ler a carta, e a confusão que isto provocou em Recife. De qualquer maneira, uma vez esclarecida que se tratava de uma carta forjada, seguia-se uma investigação para descobrir “o autor” da carta. As suspeitas iniciais recorriam naturalmente sobre os funcionários do hotel, mas depois de muita investigação, nada foi comprovada. Concluiu, finalmente, que o formulário de reclamação deve ter caído na mão de outra hospede, provavelmente também de Recife, e este foi o autor da carta. De qualquer forma, uma vez serenado os ânimos, demos umas boa gargalhadas. A carta, embora sendo um exemplo de como não se deve responder a uma reclamação, não deixava de ter um tom hilariante, que muitos gerentes gostariam de adotar ao responder a determinadas reclamacoes, pois, como sabemos, nem sempre o cliente esta com a razão.
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