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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A Cozinha

          Meu primeiro real avanço na carreira aconteceu algumas semanas após esta trabalhando na cozinha.  Um dia, o Chefe de Cozinha me chamou, e disse, “A partir de hoje você não fará mais serviço dos peões, você fará o serviço dos assistentes, e a partir de hoje você fará suas refeicoes na mesa do Chefe, junto com os demais cozinheiros” Era um “upgrade” enorme.  Primeiro, o servico era bem mais interessante, já que trabalhava ajudando diretamente os principais cozinheiros, e aprendia com eles, e depois a hora da refeição passou a ser um grande prazer.  Alem de comida excelente preparada na hora, ainda ouvia as muitas historias contadas  pelos mais velhos.  O Chefe de Cozinha comandava a mesa, e como em tudo que se passava na cozinha, era  o dono absoluto dos acontecimentos.  Tinha um domínio total de todos os aspectos da cozinha, e, como muitos chefes, um pavio curto e ai de quem ousava contrariar-lo.  Ninguém ousava entrar na cozinha, sem primeiro pedir permissão ao Chefe, nem o Gerente Geral, nem o Gerente de Alimentos e Bebidas, nem ninguém.  Os Maitres eram vistos como os “inimigos” pelo pessoal da cozinha.  Eram eles que tiravam as “comandas” que continham os pedidos dos clientes, cada qual com suas preferências particulares, que tinha que constar claramente, senão o pedido saia incorretamente, gerando reclamacoes dos clientes, devolução do prato ao cozinha, e outras mazelas.  Quando isso ocorria era um “deus nos acude” na cozinha.  O Chefe se enfurecia, xingava os pobres commis e garcons que apenas conduziam os pratos de volta a cozinha, enquanto os Maitres observava a uma distancia salutar.  Na época eu ainda estava num processo de aprendizado na língua portuguesa, e meu vocabulário era diariamente enriquecido por um torrente de palavrões novos.  Me lembro que, na época, mal conseguia completar uma frase completa em português que não continha pelo menos um palavrão.
Foi também nesta época que aprendi uma lição de ouro, que aplico ate hoje.  Nunca, mas nunca mesmo, em nenhuma circumstancia, devolve um prato a cozinha mas ser refeito , a não ser que você mesmo vai junto com o prato!

         Ao todo passei um total de seis meses na cozinha.  Foi uma experiência enriquecedora, em todos os sentidos.  Trabalhei em todos os horários, e em todos os se tores.  Aprendi muita coisa, e cheguei a trabalhar junto com o Chefe na “boquette” ajudando a cantar as comandas, distribuir as tarefas entre os cozinheiros, e soltar os pedidos, verificando que cada um seguia  com seu acompanhamento correto. Cheguei a ser responsável pela copa geral durante o serviço de café da manha, numa época que havia muitos pedidos de omeletes, ovos com presunto, waffles, etc. etc.  Isto era numa época que todo o serviço era a la carte.  Não havia surgido ainda os “buffets”  e serviço “self-service” de hoje. Tudo era feito e servido na hora.  Quando trabalhava na Copa entrava em serviço as 5.30 da manha. Saia de casa no Leblon as 4.30 e pegava um ónibus ate Princesa Isabel, e fazia o resto do percurso a pé, porque o Gávea-Leme não funcionava neste horário.  Nesta época, nunca cheguei atrasado, e nunca faltei.  Aprendi a ter orgulho no que fazia, e aprendi a importância de fazer parte de uma equipe, que não podia falhar!  E aprendi que, sem apoio da equipe, ninguém podia funcionar bem.  Apesar de ter gostado muito da experiência na cozinha, nunca quis ser um grande Chefe.  Não acho que tinha talento suficiente para isso, mas o que aprendi foi o suficiente para entender como tudo funcionava, respeitar a participação de cada um, e principalmente, adquirir uma enorme admiração pelos Chefes de Cozinha, esses sim, verdadeiros heróis na estrutura de qualquer hotel de sucesso.

Um comentário:

  1. Eu me lembro tão bem qdo era sua secretária e que resolvi criar caso com o chefe d cozinha, vc me aconselhou a não fazer isso nunca, porque vem o troco, vc querendo ou não. Muito legal este seu blog, pena eu não ter lido os dois primeiros capítulos. Beijos,
    Sonia

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