Os próximos cinco meses foram passados no escritório do hotel, ou na Controladoria, como e conhecido hoje. Comecei no setor de custos, aprendendo o controle do custo de alimentos e bebidas, que e uma função crucial. O serviço consistia em cruzar as "comandas" da cozinha com as notas fiscais emitidas, e depois checar as requisicoes ao almoxarifado. Alem disso, fazia um inventario diário dos alimentos em estoque nos setores, para no fim de tudo apurar o custo diário. Era um trabalho exaustivo, mas interessante, pois o objetivo era sempre de alcançar um custo menor. A maioria dos "fiscais" que executavam esse trabalho eram mal vistos nas áreas operacionais, mas no meu caso, como eu já tinha passado pelas áreas operacionais e era amigo de muitos, o meu trabalho era facilitado. Eu chegava explicando para meus ex-colegas, "olha, agora eu sou um fiscal, e meu trabalho e controlar vocês. Conheço os macetes e as malandragens e não vou da mole para vocês. Abram os olhos" A mensagem foi bem recebido e a grande maioria cooperavam comigo, tanto e que conseguimos baixar o custo de alimentos sem precisar entregar algum colega para a gerência. Outro serviço que aprendi bem foi de caixa de restaurante, quando todo o serviço era feito manualmente pois não existia nem maquina de calcular para somar as contas. Tinha que trabalhar com rapidez e muita destreza, e não podia cometer erros, mas o serviço bem feito evitava de se criasse gargalos no andamento do serviço. De Caixa de Restaurante fui para Correntista, função que não existe mais mas que e parecido com o serviço de caixa de recepção. Os correntistas trabalhavam numa pequeno cubículo, atrás da Recepção, e eram responsáveis pelos lançamentos dos débitos nas contas dos hospedes. Trabalhava numa maquina "Burroughs", que antecedeu o mais conhecido NCR42, este também de distante memoria, ambos totalmente estranhos para as novas geracoes. O trabalho era burocrático, e como trabalhavam sozinho num pequeno cubiclo, tambem solitário. Embora eu era um estagiário, na pratica o Chefe de Escritório me usava como um coringa, para tapar qualquer buraco que existia na escala, e consequentemente as vezes eu passava muito mais tempo que previsto em certos setores. Foi o caso de Correntista, onde eu era usado como tornante de folgas, uma vaga difícil de ser preenchida, por causa dos horários difíceis. Na segunda e terça-feiras trabalhavam das 8 as 17hrs; nas quartas e quintas-feiras de 15 as 24 hrs, na sexta-feira trabalhavam das 23 hrs ate 8 hrs da manha de sábado, no sábado folgava, o que significava que boa parte da folga era passado dormindo pois tinha passado a noite toda acordada, e no domingo trabalhava em um dos horários anteriormente citados, dependendo de quem folgava naquele domingo. Era um horário bastante anti-social, e por isso difícil de ser preenchida, mas havia algumas compensacoe. Uma delas e que o cubículo dos correntistas era vizinha do Boite Balaio, arrendado pelo hotel para o famoso Sacha , portanto toda sexta-feira meu trabalho era embalado pela musica vindo da boate. O Sacha tocava piano, sempre iniciando com a musica "Manhattan", mas como já estávamos em 1966, a musica mecânica também fazia parte do espectáculo, com o filho do Sacha no papel de DJ. Este começava invariavelmente tocando Frank Sinatra cantando "Stranger`s in the Night", tanto e que ate hoje quando ouço esta musica minhas lembranças voltam aquele tempo.
Um episódio vivido neste tempo me valeu uma suspensão e quase demissão. E que um hospede habitual do hotel naquele tempo era o cantor Roberto Carlos, que chegava toda quinta-feira para apresentar seu show "Jovem Guarda" no TV Rio, sempre as sextas-feiras para depois deixar o hotel sábado pela manha. O Roberto estava no auge do seu sucesso e todos os sábados juntava centenas de meninas na porta do hotel avidas para obter um autografo do astro, sem sucesso. Foi ai que tive a ideia de distribuir as dezenas de notas de despesas arquivadas comigo, todas com a assinatura do Roberto - e que iriam para a lata do lixo pois não tinham mais valor para o hotel - entre as fãs. Cheguei na rua com um punhado de notas na mão e sacudindo-as no ar gritei "Quem quer uma assinatura de Roberto Carlos?", sem imaginar a histeria que minha pergunta iria provocar. Na confusão que sucedeu, fui obrigado a jogar as notas no ar e recuar rapidamente de volta para o hotel. Lamentavelmente meu gesto foi relatado para a gerência, que não viu graça alguma, o que acabou resultando numa seria advertência e suspensão por três dias. Não foi a primeira, e nem seria a ultima vez, que fui suspenso.
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