Total de visualizações de página

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Um Outro Mundo

Após onze meses trabalhando no setor de Alimentos e Bebidas esta parte do estagio estava concluída e eu iria passar para o setor de Governanca.  Antes, porem, tive que escrever um relatório sobre o que eu tinha aprendido ate então, e apresentar sugestões de melhorias para os problemas encontrados.  Não era uma tarefa fácil para quem ainda não havia completado 20 anos de idade, mas, revendo o relatório 45 anos depois, percebo que minha preocupação naquele tempo já estava focado nas pessoas, e não nos processos técnicos, e isso e um traço que me acompanhou a carreira toda.  Embora eu não soubesse na época, os anos `60 representava o fim de uma era para a hotelaria carioca - ate então fortemente associada a tradição clássica europeu - pois foi a ultima década em que boa parte da mão de obra especializada era composta de europeus.  Os maitres que trabalhavam nos restaurantes do Leme Palace eram suicos, alemães, italianos, austríacos, ou franceses, todos muito experientes e com idades superiores a 50 anos.  O Chefe da Cozinha era um suico, o Chefe da Patisseria era um austríaco, e assim por diante.  Como já  mencionei antes, boa parte dos garcons e barmen eram portugueses e espanhóis.  Dez anos depois, esse quadro tinha mudado completamente.  Os antigos maitres já estavam aposentados.  Os portugueses e espanhóis haviam se tornado donos de bares e restaurantes, e não vinha mais mão de obra da Europa para substituir-los.  Foi necessário então buscar a mão de obra necessária no mercado interno.  Não foi uma transição fácil, e a qualidade dos serviços oferecidos nos hotéis inicialmente caiu muito.  Contribuiu para isso a grande demanda de nova mão de obra por causa da rápida expansão do parque hoteleiro carioca durante a década de `70, com a construção do Intercontinental, do Sheraton, do Caesar Park, do Rio Palace, o Rio Othon, e do Meridien, todos inaugurados entre 1974 e 1979, sem esquecer o Hotel Nacional, inaugurado em 1970.  Alem disso, os novos hoteis trouxeram uma nova filosofia de administracao hoteleira, mais focado no estilo americano, onde a administracao dos custos e a busca de resultados economicos predominava. 
Sempre acho que tive sorte na minha vida, e na minha carreira, e muitas vezes eu estava no lugar certo na hora certa.  Ao completar meu estagio em Alimentos e Bebidas num hotel bem sucedido, e repleto de bons e experientes profissionais europeus, adquiri, sem perceber, uma formação clássica de serviço europeu, sem sair do Brasil, ao mesmo tempo que o convívio intimo que tive com os escalões mais baixas da hierarquia me deu um conhecimento e um respeito para os mais humildes que me serviria muito nos anos futuros.  Era mais um exemplo de estar no lugar certo na hora certa!

Nenhum comentário:

Postar um comentário