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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Um Outro Mundo

Em fevereiro de 1966, após onze meses trabalhando no setor de Alimentos e Bebidas do Leme Palace, essa primeira fase do estagio estava concluída e eu iria passar para o setor de Governanca. Antes, porem, tive que escrever um relatório sobre o que eu tinha aprendido ate então, e apresentar sugestões de solucoes para os problemas encontrados. Não era uma tarefa fácil para quem ainda não havia completado 20 anos de idade, mas, revendo o relatório quase 60 anos depois, percebo que minha preocupação naquele tempo já estava focado nas pessoas, e não nos processos técnicos, e isso e um traço que me acompanharia a carreira toda. Embora eu não soubesse na época, os anos `60 representava o fim de uma era para a hotelaria carioca - ate então fortemente influenciado por um estilo baseado na tradição clássica europeu - pois foi a ultima década em que boa parte da mão de obra especializada era composta de europeus. Os maitres que trabalhavam nos restaurantes do Leme Palace eram todos suicos, alemães, italianos, austríacos, ou franceses, todos muito experientes e com idade superior a 50 anos. O Chefe da Cozinha era um suico, o Chefe da Patisseria era um austríaco, e quase todos os garcons e barmen eram portugueses ou espanhóis. Dez anos depois, esse quadro havia mudado completamente. Os antigos maitres já estavam aposentados. Os portugueses e espanhóis haviam se tornado donos de bares e restaurantes, e não vinha mais mão de obra da Europa para substituir-los. Foi necessário então buscar a mão de obra necessária no mercado local. Não foi uma transição fácil, e a qualidade dos serviços oferecidos nos hotéis inicialmente caiu muito. Contribuiu para isso a grande demanda de nova mão de obra por causa da rápida expansão do parque hoteleiro carioca durante a década de `70, com a construção do Hotel Nacional em Sao Conrado, do Hotel Intercontinental, do Sheraton, do Caesar Park, do Rio Palace, o Rio Othon, e do Meridien, todos inaugurados na década de '70. Alem disso, os novos hoteis trouxeram uma nova filosofia de administracao hoteleira mais focado no estilo americano, onde a administracao dos custos e a busca de resultados financeiros predominava. Sempre considerei que tive sorte na minha carreira, pois muitas vezes eu estava no lugar certo na hora certa. Ao completar meu estagio em Alimentos e Bebidas num hotel bem sucedido, e repleto de bons e experientes profissionais europeus, adquiri, sem perceber, uma formação clássica de serviço europeu, sem sair do Brasil. Mesmo assim, a melhor e mais importante licao que aprendi nest período, gracas ao convivio proximo que tive com os escalões mais baixas da hierarquia, me deu um conhecimento, uma admiracao, e um respeito para os colabotadores mais humildes da organizacao, e isso seria de grande utilidade ao longo da minha carreira.

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