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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O Ascensorista

Terminado o estagio na Governanca passei para a parte mais agradável e glamuroso de todo o estagio que era o "Front Office".  Comecei numa funcao que nem existe mais, que era ascensorista.  Naquele tempo os elevadores não eram automáticos, mas operado através de uma manivela, como ainda pode ser observado em alguns prédios antigos  no centro da cidade.  Era um trabalho simples, mas agradável, pois tinha o contacto direto com os hospedes, que sempre tinham perguntas a fazer.  Alem disso só trabalhava seis horas por dia, e embora tinha que ficar de pé quando tinha algum hospede dentro do elevador, ou quando estava parado no andar térreo, nas demais situacoes podia sentar no banquinho e descansar um pouco.  Depois da dureza da Governanca, parecia que eu estava de ferias.  Naquele tempo (1966), havia um mercado negro de cigarros americanos, e o Chefe dos ascensoristas atuava neste mercado.  Ele mantinha um estoque de cigarros escondidos em buracos existentes entre os andares, que só podiam ser acessados parando o elevador entre os andares e abrindo a porta.  Todos os ascensoristas aprendiam a fazer esta manobra  -que só podia ser feito quando não havia nenhum hospede no elevador - pois todos tinham participação nos lucros dessa operação.  Como só fiquei 15 dias nesse setor, não sei avaliar quanto essa operação rendia para cada um, mas pela inexistência de "turnover" no setor imagino que não foi pouco.
Os próximos três  meses trabalhei como Mensageiro, que foi um trabalho variado e interessante, pois fazia um pouco de tudo.  A principal atividade era de fazer os "check-ins" e "check-outs", levando e buscando as malas dos hospedes, mas também fazia serviços de manobrista, e ainda serviços externos de "office-boy" sempre que a gerência necessitava.  O turno da manha trabalhava das 8 as 12 horas, e depois das 16 as 20 hrs, enquanto o turno da tarde trabalhava das 12 as 16 hrs, e depois das 20 as 24 hrs.  Ainda havia o turno da madrugada que trabalhava de meia-noite ate as 8hrs da manha.  Todo o pessoal do "Front-office" trabalhava neste regime.  Não havia refeitório no hotel e as pessoas iam para casa almoçar ou jantar, para depois retornar ao trabalho, mas pelo menos não existia engarrafamentos de transito.
Trabalhava 4 mensageiros em cada turno, e havia um rodizio de posicoes de maneira que sempre um mensageiro era "da vez", esperando a próxima tarefa.  Todos torciam que o trabalho "da vez" fosse um check-in", pois assim a gorjeta era certa, e quando apontava um táxi vermelho do Transcopass (a única cooperativa de táxi do aeroporto existente na época) na entrada a alegria era grande, pois sabíamos que era um "check-in".  Em contra-partida, a ordem de comparecer na gerência para atender algum pedido era recebido com tristeza, mas não se podia reclamar, pois a disciplina era rígida e os concierges (que chefiava os mensageiros) não admitiam contestacoes.
Entre as atribuicoes dos mensageiros, era de servir de manobristas.  Isto consistia principalmente em levar e trazer os carros dos hospedes do garagem do hotel, que ficava na entrada do Túnel Novo, distante do hotel. Por isso, só se levava os carros para a garagem a parir das 11.30 da noite.  Ate la ia acumulando os carros em torno do hotel.  Era comum naquele tempo, os hospedes paulistas viajarem para o Rio de carro, pela Dultra pois fazia a viagem em três ou quatro horas.  Muitos vinham em carros importados e era comum, numa sexta-feira acumular, uma dúzia de Mustangs ou Camargos, alem de outras marcas, para levar na garagem.  Aproveitando então esses carrões, não era incomum "esticar" o caminho ate o posto seis, para depois retornar para o Túnel Novo.  Também não era incomum oferecer carona para as telefonistas que saiem de serviço a meia-noite, principalmente as mais bonitinhas.  Toda essa farra terminou entretanto, na noite que um colega mensageiro, acompanhado de uma telefonista, bateu num cruzamento distante do caminho da garagem.  Ninguém se machucou seriamente, mas foi um escândalo de grandes proporcoes, pois o carro - um Mustang - foi perda total.  Felizmente para mim, neste dia, eu havia trabalhado no turno da manha!

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